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Brasil como palco

O coletivo teatral “Rimini Protokoll” faz visitas domésticas na América Latina – e descobre histórias fascinantes. 

23.11.2017
Teatro do Rimini Protokoll: “Home Visit: Brasil em casa”
Teatro do Rimini Protokoll: “Home Visit: Brasil em casa” © Rimini Protokoll

Para a sua série “Home Visit”, a equipe de autores e diretores do “Rimini Protokoll” viajou pelo mundo – em 2017, para o Brasil. Com a aquisição de um ingresso de teatro, cerca de 15 participantes têm acesso a apartamentos e casas privadas. Juntos, eles debatem questões de identidade nacional, seguem os rastros das próprias raízes, formam equipes e disputam pontos. Três depoimentos sobre as experiências com “Home Visit: Brasil em casa”.

“Não há falta de material de debate”
Stefan Kaegi do “Rimini Protokoll”

“No início, eu estava céptico de que ‘Home Visit: Europe’ pudesse ser transposto a todo o Brasil. Se faria sentido, abrir o mapa desse país gigantesco sobre a mesa das salas de estar no Rio de Janeiro. Afinal, eu sei que muitas pessoas no Sul do Brasil conhecem melhor cidades como Paris ou Londres, do que o Norte do seu próprio país. Quando frequentei um ano de escola no Brasil, no final da década de 1980, aprendemos lá mais sobre a Revolução Francesa e sobre Bismarck do que sobre a História do Brasil. Mas no ensaio geral numa república no Rio, uma das participantes marcou, logo no início, um ponto no meio da bacia do Amazonas, de onde viera a sua avó índia. E um homem de Minas Gerais respondeu à pergunta sobre como seus avós se conheceram, afirmando que eles foram libertados, juntos, da escravidão. Logo a discussão voltou-se para temas atuais do Brasil, como corrupção e redistribuição de renda. Nunca faltou material de debate”.

Stefan Kaegi
Stefan Kaegi © Rimini Protokoll

“Histórias inimagináveis e valiosas”
Diretor Elilson 

“Para mim, um dos principais mecanismos dramatúrgicos dessa produção é a mescla de vida pública e espaço privado. Todas as noites, pessoas desconhecidas reúnem-se em apartamentos e, através da encenação, revelam recordações familiares, opiniões políticas, conhecimentos históricos. Dessa maneira, aprendi a cada dia histórias inimagináveis e valiosas, nas quais os aspectos privados mesclaram-se com os políticos. Além disso, a dramaturgia da encenação trouxe explicitamente à tona, alguns clichês brasileiros. Ela revelou aspectos do caráter do país e mostrou, o quanto a História influencia a atualidade”.

Elilson Duarte
Elilson Duarte © Wilton Montenegro

“Tipicamente alemão”
Coadjuvante Giórgio Ziemann Gilson do Rio de Janeiro

“No ‘Home Visit: Brasil em casa’, há esse momento, em que o grupo pode decidir se a equipe com o maior número de pontos será excluída e os outros poderão distribuir o prêmio entre si. Nos dois shows dos quais eu participei, foi decidido em favor da equipe vencedora. Isso me causou admiração, pois na situação política atual do Brasil se discute muito sobre a eliminação dos privilégios dos ricos. No nível metafórico da encenação, isso não foi consumado.

Além disso, as visitas domésticas possibilitaram encontros extraordinários, por exemplo com uma parente de Carlos Marighella, um revolucionário que lutou contra a ditadura militar na década de 1960. O projeto também leva a considerar os clichês nacionais. Como tipicamente alemão, eu considerei, por exemplo, a organização do encontro: tudo muito bem estruturado. Um jogo com regras claras e pouco espaço para improvisação. Tipicamente brasileiro me pareceu, ao contrário, a delicadeza de responder às perguntas como grupo e, assim, evitar todo tipo de competição. Para mim, isso é exemplar para o espírito comum brasileiro”.

Giórgio Ziemann Gilson
Giórgio Ziemann Gilson © privat