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“Um novo modo de pensar”

O pesquisador Radu Popescu-Zeletin, sobre Smart Cities e o trabalho de FOKUS na América Latina.

22.12.2014
© dpa/Moreira - City

O que significa “Smart City”?

O ponto de partida de todas as considerações neste âmbito conduz ao fato de que cada vez mais objetos estão aptos a se comunicar. Simplificando: todo objeto que custa mais de cinco dólares tem hoje um endereço IP. Por isso, podemos usar as coisas muito mais “inteligentemente”, envolvendo-as em aplicações complexas. Esse conceito remonta a uma visão da IBM, onde se começara a pensar, há cerca de 20 anos, sobre o “Smart Planet”, ou seja, sobre aplicações que envolvem todo o planeta. Tendo sido difícil pôr isto em prática, deu-se um passo atrás, em direção a “Smart Cities”.

Um impulso muito mais modesto.

Sim, e, sobretudo, mais sensato. As cidades crescem depressa. Mais de 60% da 
população mundial vive em centros urbanos. Cerca de 400 cidades têm mais de 
dez milhões de habitantes, o que acarreta problemas para os recursos, como o ar, a água, as estradas, a energia. A questão é de como se pode aperfeiçoar o aproveitamento desses recursos, usados por uma grande quantidade de pessoas. “Smart 
City” não é, portanto, uma série de pro­dutos, mas um processo, um novo modo de pensar.

Muitas pessoas unem esse conceito a projetos de trânsito.

Isto é apenas uma pequena parte. Trata-­se de uma visão global. Citando somente dois complexos: o ar tem algo a ver com o transporte e o transporte com a energia. No âmbito de cada componente também existem possibilidades de melhora. Mas, em primeiro plano, estamos falando aqui de um sistema de sistemas. A realização prática refere-se a todos os mecanismos de TI que ganharam importância nos últimos dez anos, ou seja, as nuvens para o armazenamento de dados, por exemplo, ou o “big data” para a análise e aperfeiçoamento de dados.

Quais são os elementos concretos de uma “Smart City”?

Podem ser coisas triviais, mas também muito complexas. Trata-se, por exemplo, de uma política energética do futuro, na qual existirão os chamados “Prosumer Systems”, ou seja, o produtor é simultane­amente consumidor. Para tanto, precisamos de uma infraestrutura viável. Outro exemplo de elemento das “Smart Cities” são sistemas de navegação que fazem mais do que apenas nos conduzir de A 
para B.

Que ganho de valores isto pode ter?

Muitas pessoas sofrem de febre do feno. Em Berlim existem pontos de medição da saturação de pólen no ar. Desenvolvemos um sistema de navegação que, além de orientar o usuário na procura do destino desejado, também registra seus agentes alérgicos, procurando, então, um caminho que evite lugares com grande concentração desses polens. Neste particular, cabeças criativas usaram uma tecnologia básica para criar novas aplicações. Berlim está cheio de tais ideias e “spin-offs”.

Berlim é uma cidade muito inteligente?

A cidade já começou, no mínimo, a ser uma “smart city”. Para tanto, o importante é uma estratégia de “open data”. Um 
número relativo de dados da administração de Berlim já está disponível. Isto é uma boa base.

De Berlim à América Latina, onde o 
senhor se engaja muito. Por quê?

O negócio é que as chamadas megacidades não ficam na Europa, mas na América Latina, na China e na África. Em FOKUS, do Fraunhofer, intencionamos construir “hubs” em todas essas regiões, para compreender melhor os respectivos problemas. Se quisermos oferecer soluções relevantes, estas têm que ser especializadas e adaptadas às necessidades locais típicas. Partindo do Chile, estamos trabalhando na América Latina. Esse país tem um ambiente universitário extremamente favorável. Precisamos de parceiros locais. No Chile, estes são, sobretudo, a Universidad de Chile, a Universidad Técnica Federico Santa María, em Valparaíso, e diversas empresas. Também cooperamos com diversos ministérios.

Que problemas existem no Chile, para os quais se pretende oferecer soluções?

O Chile é interessante, pois lá há alguns desafios relevantes para todo o mundo. É o caso, por exemplo, das vias de transporte de energia. O Chile possui uma extensão de 4500 quilômetros. A indústria concentra-se principalmente no norte do país, mas a energia vem do sul. A questão é: como se pode construir uma rede de milhares de quilômetros, sem que se tenha grande perda de energia? Outro setor muito interessante é o da mineração. Existem muitos impulsos para a extração mineira sem o emprego de pessoas, usando somente máquinas. Muitas das tecnologias, que desenvolvemos no campo da interligação de transeuntes, também são aplicáveis na indústria mineira.

Em que outros países latino-americanos o senhor atua?

No Brasil e no Peru. Um elemento de 
nosso trabalho é o tema da segurança. No âmbito deste tema, desenvolvemos o sistema de alerta de catástrofes “Katwarn”, que, na Alemanha, já vem sendo usado em mais de 40 cidades. Em caso de catástrofe, a população é informada através de SMS, telefone, televisão e outros canais. Sendo um país fortemente ameaçado por terremotos, o Peru tem grande necessidade de tal sistema. Aqui há uma grande cooperação. Além de segurança, trânsito, energia ou saúde, nossa ideia é criar uma atmosfera de “think tank”. Juntos, queremos desenvolver soluções, exportando-as para todo o mundo. O que é empregado no Chile ou no Peru pode também ser necessário no Japão. ▪

Entrevista: Helen Sibum

RADU POPESCU-ZELETIN é professor titular na Technische 
Universität de Berlim, diretor do Instituto Fraunhofer 
de Sistemas Abertos de Comunicação e fundador de várias 
empresas no setor da telecomunicação