Um conjunto especial
A primeira temporada na Sala de Concertos Pierre Boulez, em Berlim, apresenta uma mescla corajosa: música clássica, contemporânea e árabe. Jussef Eisa e Aline Khouri falam sobre seu trabalho num conjunto intercultural.
Alemanha. Prioridade para Schubert, obras contemporâneas e música árabe: a temporada de inauguração da nova Sala de Concertos Pierre Boulez, em Berlim, não demonstra timidez com a mescla fora do comum na sua programação. O grupo recém-criado Boulez Ensemble vai ainda mais além: para cada apresentação, juntam-se diversos músicos da Staatskapelle Berlin e da West-Eastern Divan Orchestra, professores da Academia Barenboim-Said e artistas convidados, para tocarem em conjunto. Seu palco não é menos original – a Sala Boulez, para cerca de 700 pessoas, foi projetada por dois astros do setor: o arquiteto estadunidense Frank O. Gehry e o técnico japonês de acústica Yasuhisa Toyota. A sala elíptica com piso vibrante, que parece flutuar, é algo muito especial. Da mesma forma como a ideia por trás de tudo. No grupo Boulez Ensemble, fundado por Daniel Barenboim, a compreensão entre os músicos de distintos círculos culturais é tão importante quanto o som. Como cofundador da West-Eastern Divan Orchestra e da Academia Barenboim-Said, que iniciou seus trabalhos no outono setentrional de 2016, o famoso pianista e maestro fomenta a mesma ideia: músicos com raízes árabes, mas também israelenses, estudam e tocam música conjuntamente.
A nova Sala de Concertos Pierre Boulez constitui o centro do imponente prédio no terreno do antigo depósito da Staatsoper de Berlim, onde a Academia Barenboim-Said tem também as suas salas de seminário. O grupo Boulez Ensemble inaugura a primeira temporada na Sala Boulez, em 4 de março de 2017.
Deutschland.de conversou com dois jovens músicos do Boulez Ensemble.
Jussef Eisa, 31 anos, clarinetista
O clarinetista Jussef Eisa, filho de pai palestino e de mãe alemã, nasceu e foi criado na Alemanha. Desde 2009, ele toca na West-Eastern Divan Orchestra e, futuramente, também no Boulez Ensemble. Ele aprecia a ideia por trás dos projetos musicais. “Tocar nessas orquestras é uma grande honra para mim”, diz Eisa. “O Boulez Ensemble vai reunir futuramente muitos músicos interessantes – a cooperação é uma tarefa interessante e intensiva!”. Na sua opinião, o trabalho é enriquecido pelas diversas formações e identidades culturais. “A questão não é de onde nós viemos, mas sim que somos todos seres humanos”. A convivência com músicos distintos nos torna mais abertos, através das variadas formações culturais aprende-se a habilidade diplomática e a ouvir um ao outro. “Para mim é importante ser parte desse projeto. Essa é uma contribuição para a compreensão cultural que, nós músicos, podemos assumir e que pode transformar a sociedade”, afirma Eisa.
Aline Khouri, 31 anos, harpista
Há diversos motivos, pelos quais a harpista Aline Khouri toca, há alguns anos, na West-Eastern Divan Orchestra e futuramente também no Boulez Ensemble. “Minha paixão é a música dos séculos 20 e 21. Isso combina muito bem com a prioridade do Boulez Ensemble”. Um outro motivo é a ideia por trás das duas orquestras, de fomentar um diálogo intercultural através da música. O pai de Aline Khouri tem ascendência palestina e foi criado no Líbano, a mãe é originária da Crimeia. Aline Khouri tem as cidadanias alemã e libanesa. “A temática de que se ocupam a orquestra e Daniel Barenboim é muito relevante para mim”, diz ela. As fases intensas de ensaio, de muitas semanas, nas quais os músicos trabalham em conjunto e vivem juntos, dão oportunidade para a compreensão recíproca, mas também das próprias origens e biografias. “Não se trata então dos grandes conflitos, como o conflito do Oriente Médio. A gente nota: trata-se de mim e de você e da pergunta sobre como podemos e queremos nos tratar reciprocamente. Esse é um solo fértil para conversações e debates construtivos e para repensar as próprias opiniões”.
Concerto de inauguração com o Boulez Ensemble & Daniel Barenboim, em 4 de março de 2017
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