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Mancha branca na cidade

Na América Latina, um projeto da Fundação Siemens revitaliza bairros ameaçados pela decadência.

01.10.2015

Casas urbanas tradicionais com fachadas coloridas caracterizam o bairro de Yungay em Santiago do Chile. Entre elas: telhados caindo, cercas de construção, ruínas. O bairro tradicional teve de suportar muita coisa, por último o terremoto devastador de 2010. Fundado no ano de 1839, há em Yungay muitos prédios tombados como patrimônio histórico, que estão ameçados de destruição. “Como podemos preservar esses espaços, como podemos aproveitá-los?”, pergunta Joachim Gerstmeier, curador da Fundação Siemens. A fundação assumiu a tarefa de contribuir para o desenvolvimento social sustentável nos países da América Latina, da África e da Europa. No ano de 2014, ela criou a série de projetos “Changing Places/Espaços Revelados”. Assim, artistas reinterpretam espaços urbanos abandonados com as suas intervenções. No lançamento, em Buenos Aires, chamou a atenção, por exemplo, a instalação de balões “Scattered Crowd”, de William Forsythe. A segunda parte da série está surgindo atualmente em Santiago do Chile e será apresentada em abril de 2016.

Diálogo com os moradores

“Os imóveis abandonados e terrenos baldios de Yungay são uma mancha branca na cidade”, afirma Joachim Gerstmeier. “Elas despertam curiosidade e sugerem a pergunta sobre possível nova utilização”. A presença física de casas vazias torna-se ponto de partida para um debate sobre coesão social nas metrópoles. Artistas internacionais participam dele com suas intervenções em 15 prédios. A alemã Eva Meyer-Keller está entre os 
artistas. Como fotógrafa e coreógrafa, a berlinense movimenta-se na interface da arte de representação e da arte plástica. Também Trinidad Piriz participa. A chilena trabalha com o idioma e aproveita palavras e sons para sua arte sonora. “A ideia para o meu trabalho em Yungay é fazer falar um prédio abandonado”, declara. “Através de entrevistas com moradores de diversas gerações e origens diferentes, desejo criar uma arqueologia do som”.

Piriz analisou a situação do bairro, juntamente com os moradores. O processo de trabalho conjunto de artistas, moradores e autoridades é uma parte substancial do projeto. Pois, não apenas as paredes se tornam quebradiças – também as estruturas sociais podem sofrer rupturas. Há muitas causas para isto. Em Buenos Aires, foi a crise financeira; em Santiago, o tremor da terra. A gentrificação e o êxodo podem ser outros fatores marcantes. “Changing Places” cria perspectivas, sem cair no acionismo. O projeto liga seu trabalho estreitamente com os moradores: como vivem eles no seu bairro, qual é a sensação predominante? Quando eles deixam a estrutura usual – que possibilidades de engajamento e de interligação surgem? Gerstmeier está convencido: “Os espaços vazios se tornam lugares de intercâmbio sobre o futuro da cidade”. ▪