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Um experimento num grande palco

Espetáculos da América Latina e um coprodução alemão-chilena: com o festival ¡Adelante!, o Teatro e Orquestra de Heidelberg reúne artistas de diversos continente.

17.02.2017
© Annemone Taake - Theatre

Para a peça "Not in my backyard", que estreou em Heidelberg, cooperaram artistas de teatro alemães e chilenos. Nela, artistas do grupo Colectivo Zoológico e do Theater Heidelberg narram sobre uma comunidade ecológica no Chile, que teme a perda do seu microcosmo. A atriz Nicole Averkamp e o diretor Nicolás Espinoza falam sobre as experiências com a coprodução.

Nicole Averkamp: “Falamos até as cabeças ficarem quentes”

“O começo da nossa cooperação foi marcado por grande franqueza e curiosidade. Superando todas as barreiras linguísticas, falamos até as cabeças ficarem quentes. O que pode ser relevante para os dois países, Chile e Alemanha, numa noite de teatro? É sempre complicado encontrar uma expressão artística comum. São necessárias muitas tentativas, frequentemente vãs. É preciso coragem, criatividade e paciência. Nossa tarefa foi tomar consciência da distinta socialização dos participantes – na vida, como na cultura. Utilizar as línguas diversas e não esconder os mal-entendidos daí resultantes. É inteiramente claro que tais desafios não transcorrem sem atritos. O riso conjunto sobre situações confusas tornou o trabalho especialmente valioso e fez dele uma experiência fantástica. Tivemos de buscar caminhos de comunicação e permanecer neles. No nosso mundo globalizado, a comunicação é dificultada frequentemente através de irreflexão, de fake news e de outras coisas. Temos de ignorar isso e concentrar-nos no substancial – para mim, uma razão para fazer teatro. Através da minha representação no palco, posso sensibilizar muita gente: para determinados temas e situações. Assim sendo, considero interessante a concepção de um mundo teatral interconectado, esperando disso uma série de novos contatos e um aumento do intercâmbio de informações. Na melhor das hipóteses, nós atores podemos juntar nossas energias, canalizando-as efetivamente. Exatamente nós, atores, já viemos exercendo nossa profissão como combatentes solitários há demasiado tempo. Entrementes está surgindo, sem dúvida, um sentimento de solidariedade”.

Nicolás Espinoza: “Um lugar de conflito permanente”

“É sempre difícil levar uma ideia criativa concretamente ao palco. Mais difícil ainda é, quando as pessoas participantes não se conhecem, não vivem no mesmo país e nem falam a mesma língua – como na peça “Not in my backyard”. Nós decidimos não ignorar as diferenças existentes, pois elas encerram também diversas e criativas possibilidades e criam um espaço fértil. As confusões e problemas foram parte da criação da peça. Trabalhamos para que ela não se desenvolvesse num conflito, que nos fizesse esquecer a nossa tarefa propriamente dita. Eu creio que os problemas atuais da nossa sociedade estão ligados em grande parte com a ideia da propriedade. A quem pertencem objetos, língua, país, costumes, conceitos? A peça e a experiência de desenvolvê-la conjuntamente foram oportunidade para questionarmos a nós próprios. Tivemos de elaborar estratégias que nos permitiam comunicar. Não para, como resultado, homogeneizar a peça, mas sim para poder demonstrar as nossas próprias contradições e a complexidade do mundo em que vivemos. O teatro é um lugar de conflito permanente. É um espaço que sempre põe em discussão a si próprio. O questionamento de determinados valores pode nos ajudar a entender um pouco melhor, nós próprios e o mundo. Esperamos que o resultado desse experimento incentive os espectadores a prosseguirem as discussões e as reflexões sobre a comunidade”.

Boxe de informação: Encenações da Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Colômbia, Cuba, México e Peru, bem como da Espanha, são convidadas do festival de teatro ¡Adelante! em Heidelberg, de 11 a 18 de fevereiro de 2017. O festival ibero-americano aborda sobretudo temas políticos e sociais. Ele é “um importante sinal político-cultural do pensamento e da ação transfronteiriços e interculturais”, segundo Holger Schultze, diretor do Teatro e Orquestra de Heidelberg.

Protocolo: Petra Schönhöfer 

www.adelante-festival.de

www.theaterheidelberg.de

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