Um novo começo após o inferno
Com milhares de objetos doados e apoio internacional, o mais antigo museu de história natural da América Latina renasce no Rio de Janeiro.

O meteorito Bendegó ainda está no mesmo lugar onde estava antes do incêndio. Firme e robusto, ele repousa sobre um pedestal no hall de entrada do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foi destruído por um incêndio em setembro de 2018. E isso agora, em plena reconstrução, com a exposição “Entre Gigantes: Uma Experiência no Museu Nacional” parcialmente aberta ao público. “É um convite ao público para acompanhar a reconstrução, ver o progresso e entender por que isso está demorando tanto”, diz o diretor do museu, Alexander Kellner, filho de uma austríaca e um alemão. Mais de 10.000 visitantes regressaram entusiasmados ao Museu Nacional desde a inauguração.

Grande parte dos cerca de 20 milhões de peças expostas foram destruídas
“Meus pais já me traziam aqui quando eu era criança para visitar o museu. “Essa reabertura é muito importante para a região e para a cultura”, afirma Claudia Diogo. Ela, seu parceiro Evandro Camelo e outras pessoas também veem o Bendegó pela primeira vez nesse dia. O meteorito foi encontrado em 1784 no estado da Bahia e é uma das principais atrações da reabertura parcial. Embora a maior parte dos cerca de 20 milhões de objetos expostos tenha sido destruída pelo incêndio, o meteorito tornou-se um símbolo de resistência. “Ele sobreviveu ao espaço, ao tempo e ao fogo”, diz a astrônoma e curadora Maria Elizabeth Zucolotto.

De modo geral, o Museu Nacional também representa a característica dos brasileiros de nunca desistir, sempre se levantar e seguir em frente. Assim, a equipe de resgate considerou parte do seu trabalho “como se fosse uma escavação e a outra parte como arqueologia forense”, como diz Claudia Carvalho. Carvalho liderou um grupo de cientistas que encontrou e registrou milhares de peças e fragmentos. Assim como os trabalhos nos escombros e destroços do Museu Nacional, a criação de uma nova coleção começou logo após o incêndio, com o apoio de doações e parcerias.
Apoio da Alemanha
Logo após o incêndio, a Alemanha ofereceu ajuda e apoiou a reconstrução com um milhão de euros, e posteriormente com mais 200.000 euros. O Goethe-Institut e o Ministério das Relações Exteriores apoiaram o Museu Nacional nos trabalhos de resgate e no desenvolvimento de um conceito para o futuro. Outros apoiadores doaram peças para o museu.
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Abrir formulário de consentimentoNo total, o Museu Nacional recebeu mais de 14.000 objetos como doações. Entre os objetos que o museu recebeu para a nova coleção está o esqueleto de um cachalote com 15,7 metros de comprimento e 80 toneladas. Foi encontrado em 2014 no estado do Ceará e agora está suspenso sobre a ampla escadaria do pátio interno. Entre outras coisas, em 2024, uma capa de penas sagrada para os indígenas Tupinambá foi devolvida ao Brasil pelo Museu Nacional da Dinamarca. A maior doação até agora foi feita pelo colecionador alemão-suíço Burkhard Pohl, que doou mais de 1100 fósseis brasileiros, incluindo dinossauros raros.
Laços estreitos com o mundo de língua alemã
Fundado em 1818, o Museu Nacional é uma das instituições científicas mais antigas do Brasil e o museu de história natural mais antigo da América Latina. No entanto, tinha uma ligação estreita com o mundo de língua alemã. Antigamente, o edifício serviu de palácio para a família real portuguesa e imperial brasileira. Aqui viveu e morreu Leopoldina, a imperatriz austríaca do Brasil. A Habsburgo casou-se em 1817 com o herdeiro do trono da monarquia portuguesa e brasileira, o futuro imperador Pedro I. A família real portuguesa fugiu para o Rio em 1807, diante da ameaça de Napoleão.

É muito emocionante ver o renascimento do museu.
75 por cento da fachada já foi restaurada e pintada em amarelo ocre, a cor original do edifício. “É muito emocionante ver o renascimento do museu”, afirma o diretor do museu, Kellner, que estava no cargo há apenas seis meses quando o Museu Nacional e 90 por cento do acervo foram destruídos pelo fogo. Seu mandato termina em 2026, antes da reabertura completa prevista. A abertura gradual também é uma questão pessoal para ele: “Ainda há um longo caminho a percorrer, mas fico feliz com cada visitante.”