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Coragem para a superação

A Alemanha apoiou a construção de um memorial nacional no Peru – e acompanha a superação de sua história.

24.06.2015

Foi apenas uma exposição itinerante provisória, que o presidente federal da Alemanha, Joachim Gauck, visitou primeiro trimestre de 2015 em Lima – o que já mostra o quão difícil é encontrar respostas coletivas para a questão do pensamento “correto”. E o quão longos e às vezes quão dolorosos podem ser os processos de superação numa sociedade. A Alemanha e o Peru podem, neste sentido, aprender um com o outro. A visita do presidente federal ao país sul-­americano – a primeira de um chefe de Estado alemão em mais de 50 anos – 
pode ter sido um importante passo.

O monumento “Lugar de la Memoria”, de cuja construção a Alemanha participou, lembra as vítimas do conflito armado interno 
no Peru. Os combates entre a organização guerrilheira Sendero Luminoso, de extrema esquerda, e os militares custaram, dos anos 1980 a 2000, a vida de quase 70 000 pessoas. Entre as vítimas estiveram membros das forças de segurança e representantes do Estado, bem como também civis, muitos deles da população indígena quíchua.

O conflito deixou muitas marcas e impregna o país até hoje. Por isto, a Comissão da Verdade e Reconciliação peruana observa prioritariamente duas questões: a perseguição jurídica de violações aos direitos humanos e a homenagem pública às vítimas.

A Alemanha abordou o tema já em 2008. Durante o encontro de cúpula União Europeia-América Latina, em Lima, a então ministra da Cooperação para Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, ofereceu ajuda para a construção do memorial, que o Prêmio Nobel de Literatura peruano, Mario Vargas Llosa, apoiou como mentor. Desde então existe um estreito intercâmbio – inclusive relativo ao conteúdo. Em abril de 2015, a convite do Ministério das Relações 
Externas alemão, uma delegação peruana esteve na Alemanha e 
pôde ver o trabalho de cultura memorial do país parceiro. Entre 
outros endereços, os convidados visitaram a antiga prisão do Stasi em Berlim-Hohenschönhausen.

Em Lima, Joachim Gauck também ofereceu ao Peru acompanhamento em seu trabalho de superação. Para o presidente federal, não foi uma visita rotineira. Conscientemente, falou de sua própria experiência. “Muitos dos senhores sabem, que eu vivi numa ditadura no Leste da Alemanha e entrei na política somente em 1990 através de eleições livres”, observou o presidente federal em seu discurso no “Lugar de la Memoria”. A “experiência dupla de superação de ditaduras” colocou os alemães num papel especial. “Nós tivemos experiências profundas e marcantes com a culpa, com a negação da culpa e, finalmente, com o reconhecimento e a superação da culpa”.

A Alemanha comemora em 2015 o fim de sua divisão, há 25 anos. No Peru, o fim do terror ocorreu faz apenas 15 anos – um fato do qual se tem de ter consciência, segundo Gauck. “Lembrar e homenagear não surgem da noite para o dia. É preciso tempo”. Ele encorajou um firme posicionamento sobre o passado. “O que as sociedades, que se encontram em processo de transição para uma democracia baseada no direito, precisam, é de uma convicção mais profunda. Em alguns países da América do Sul, ela é expressada em apenas duas palavras: ‘nunca mais’”.

Ele espera que o “Lugar de la Memoria” se torne, “de uma forma 
bem ampla, num local de aprendizado para a civilização. Um lugar de aprendizado para uma política que nunca mais conheça uma 
só perspectiva – a perspectiva dos governantes do momento –, mas que considere permanentemente as perspectivas dos oprimidos e das vítimas da sociedade“.

www.lugardelamemoria.org