“Nós contribuímos para salvar vidas”
Ute Kollies é chefe do escritório do OCHA em Máli e coordena a ajuda humanitária no país.

O Departamento de Coordenação de Questões Humanitárias (OCHA) das Nações Unidas possui 35 escritórios em todo o mundo, com 1900 funcionários, ao lado das suas sedes em Genebra e em Nova York. Após as lutas entre tropas governamentais e rebeldes tuaregues no Norte do Máli e um golpe militar em março de 2012, centenas de milhares de pessoas fugiram das suas terras natais. Grupos islamistas ocuparam amplas partes do Norte. Atendendo a pedido do governo do Máli, o exército francês interveio. Desde meados de 2013, está ativa no Máli a missão de paz MINUSMA das Nações Unidas, da qual também participam as Forças Armadas alemãs. Em janeiro de 2016, o Parlamento Alemão aprovou uma ampliação da missão. A estabilização do Máli é uma das mais importantes tarefas na região.
Sra. Kollies, a senhora chefia o escritório do OCHA em Bamako desde abril de 2012. Como está a situação no Máli neste começo de 2016?
Três quartos de ano após a assinatura do acordo de paz, em junho de 2015, a população ainda continua esperando pelos benefícios da paz. Mesmo que cerca de 400 000 dos 522 000 refugiados internos tenham retornado à sua terra natal, é preciso mostrar outros sinais positivos o mais depressa possível, a fim de reintegrá-los inteiramente e superar o recrutamento de jovens para o conflito armado ou para o contrabando de drogas e seres humanos. São urgentes, principalmente, as iniciativas no setor da educação e da formação profissional. Não há tampouco quase nenhuma possibilidade de trabalho. Máli é um dos países mais pobres do mundo. A situação no Norte é especialmente difícil, muitos serviços sociais básicos só funcionam graças à ajuda humanitária. Mais de 2,5 milhões de pessoas, isto representa 14 % da população, ainda necessitam de apoio no abastecimento básico.
O que o OCHA pôde fazer no Máli, até agora, para melhorar a situação das pessoas?
Em 2015, com cerca de 132 milhões de dólares – isto só corresponde a cerca de um terço do financiamento reivindicado – as organizações humanitárias ajudaram a mais de um milhão de pessoas: projetos de abastecimento de água, de ajuda alimentar, programas educacionais contribuíram para salvar vidas. Como centro de coordenação, o OCHA juntou os diversos assistentes das Nações Unidas e das organizações não governamentais, a fim de tornar mais eficiente o abastecimento. A propósito, quero agradecer explicitamente o apoio financeiro de longos anos da Alemanha ao OCHA de Máli.
O que a senhora desejaria no seu trabalho, a fim de tornar a ajuda mais efetiva?
Muito importante: o financiamento tem de ser suficiente. Para 2016, 354 milhões de dólares têm de estar à disposição. Além disto, a cooperação dos funcionários da ajuda para o desenvolvimento com as organizações humanitárias tem de ser melhorada, a fim de se encontrar soluções de longo prazo. E a implantação ativa e prática do acordo de paz tem de prosseguir da maneira mais rápida possível. Somente assim será bem-sucedida a transição da ajuda humanitária para a cooperação desenvolvimentista.
O que lhe dá estímulo?
Eu reconheci cedo na minha vida, que nem todas as pessoas têm chances iguais. Quero fazer tudo o que for possível, para compensar esta desigualdade sem culpa própria. Num mundo cada vez menos solidário, eu tenho consciência do pouco que eu faço afinal. Mas eu faço alguma coisa. Todo dia. E eu vejo pessoas, que também participam, que põem outras pessoas no centro das atenções. Isto me alegra muito. ▪