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A jovem arquiteta Sarah Friede projetou uma clínica modular. Seu conceito poderá revolucionar a ajuda humanitária.

27.11.2017
Projeto de Sarah Friede para um hospital modular em Homs.
Projeto de Sarah Friede para um hospital modular em Homs. © Fachhochschule Lübeck

Alemanha. Pessoas gravemente feridas, que só podem ser atendidas precariamente em hospitais enormemente danificados – estas são imagens especialmente chocantes das regiões de guerra ou catástrofe. A infraestrutura médica tem de voltar a funcionar o mais depressa possível. Com este objetivo, Sarah Friede desenvolveu um sistema de hospital modular, no âmbito do seu trabalho de mestrado na Universidade de Ciências Aplicadas (FH) de Lübeck. Módulos padronizados – caixas quadradas com armação de aço – podem ser combinados, formando cômodos de tamanho variado, e podem ser empilhados em vários andares. De um módulo de construção podem surgir salas de operação, quartos de pacientes ou laboratórios. As conexões e tomadas elétricas são instaladas de antemão. O protótipo, um prédio de sete andares com duas alas em forma de U, deverá ser montado na Síria. O impulso para isso partiu do professor Oliver Rentzsch, especialista em Ciência Médica.

Sra. Friede, sr. Rentzsch, o que levou à criação do projeto?

Oliver Rentzsch: Eu estava na Síria, numa missão da Organização Mundial de Saúde (OMS), para fazer um balanço da assistência da saúde. Em face da destruição da clínica na cidade de Homs e da situação de outros hospitais, ficou claro que teríamos que construir novos prédios. Para isso, haviam vários problemas: teria de ser feito muito rapidamente, a baixo preço e de alta qualidade. E teria de ser feito no local. Com isso, eu recorri à Universidade de Ciências Aplicadas de Lübeck e assim surgiu o projeto da sra. Friede.

Arquiteta Sarah Friede
Arquiteta Sarah Friede © Privat

Sra. Friede, que desafios arquitetônicos e culturais a senhora teve de enfrentar?

Inicialmente, achei difícil planejar uma clínica para uma outra cultura. No nosso curso, aprendemos as regras para a construção de hospital na Alemanha e na Europa. Mas na Síria, as exigências são distintas em alguns setores, há um número muito maior de partos, também a separação entre os sexos desempenha um papel. Além disso, em situação de crise são válidas outras prioridades no funcionamento de clínicas. Uma grande ajuda foi o contato com um sírio, que tem parentes no setor de saúde. Ele me arranjou informações e planos e traduziu tudo do árabe. Na configuração da fachada, dos cômodos e dos pátios internos, eu tentei estabelecer uma relação com a cultura. Também através do fato de que o hospital seria construído por sírios no seu país, nós logramos a maior aceitação possível.

O modelo de hospital modular de Sarah Friede é um marco para a cooperação global.
Prof. Dr. med. Oliver Rentzsch

Sr. Rentzsch, que valor tem a clínica modular de Sarah Friede para a ajuda humanitária?

É uma pequena revolução. Com o “modelo Friede”, podemos oferecer rápida e boa assistência médica – culturalmente adaptada, com a individualidade necessária, em qualquer tamanho e com uma divisão flexível. Com isso, são cumpridas todas as exigências, que tal ação humanitária traz consigo. O projeto é também um marco para a cooperação global, pois assim temos a chance de garantir a todas as pessoas o seu direito básico de assistência médica.

Cientista médico Oliver Rentzsch
Cientista médico Oliver Rentzsch © Privat

Quando poderá começar a construção da nova clínica em Homs?

O financiamento ainda está pendente e o planejamento dos detalhes ainda não está concluído. De qualquer forma: as autoridades na Síria querem implementar o “modelo Friede”. E nós temos a promessa da OMS, de apoiar o projeto. Isso já é muita coisa. Falta “apenas” uma decisão política dos financiadores. O certo é que, do ponto de vista humanitário, não há nenhuma alternativa. Independente dos interesses dos países, é preciso fornecer ajuda local.

Quando forem liberados os recursos – com que rapidez se poderá então iniciar a implementação?

Se amanhã for dada luz verde para o projeto em Homs, poderíamos estar prontos no início de 2019. De maneira geral, necessitamos de cerca de um ano para os preparativos e um ano até a conclusão das obras. Depois disso, tudo transcorrerá muito rapidamente para outras clínicas. Graças à construção modular, há então um automatismo que o próprio governo responsável trata de implementar.

Essa é a nossa compreensão da ajuda de emergência: apoio para a transferência de tecnologia da Alemanha, visando a solução humanitária dos problemas. Mas a implementação e a responsabilidade têm de ser assumidas localmente; somente assim, a ajuda é sustentável. Eu acredito que outros países vão adotar o “modelo Friede”, pois a técnica é convincente.

Sra. Friede, a senhora tem planos de transpor esse modelo modular para outras construções?

Existem conjecturas de aplicar o conceito a escolas, mas isso ainda não é concreto. Agora, trata-se inicialmente de desenvolver o projeto do hospital até o final, até que o protótipo esteja pronto. Eu posso imaginar muito bem, que o conceito poderia vir a ser aplicado a outros projetos da ajuda humanitária.

Mais informações: Sistema modular AIHD

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