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“O reforço econômico das mulheres é uma maratona”

Em nenhum dos Estados do G20 existe a igualdade econômica entre mulheres e homens. E nem na Alemanha. Mona Küppers luta na rede do grupo Women20 para que isso mude.

19.04.2017
© nd3000/Fotolia - Equal rights

Alemanha. O Women20 Summit, de 24 a 26 de abril de 2017 em Berlim, é um dos vários foros de diálogo da sociedade civil sobre a G20-Gipfel im Juli 2017 in Hamburg. (Cúpula do G20 de julho de 2017 em Hamburgo). O Deutsche Frauenrat – DF (Conselho Alemão de Mulheres – DF) e a Verband deutscher Unternehmerinnen – VdU (Associação das Empresárias Alemãs – VdU) receberam a incumbência de organizar o processo do diálogo do Women20. Mona Küppers, presidente do DF, expõe os objetivos nesta entrevista.

Mona Küppers

Senhora Küppers, quem virá para Berlim, para participar em Women Summit20, e o que a senhora, uma das organizadoras, espera dessa conferência?

Estamos esperando, na nossa Cúpula do W20, a presença de cerca de 100 representantes dos Estados-membros do G20 e a presença de representantes de outras organizações internacionais relevantes, ou seja, de associações femininas e sociais,  de empresarias e de cientistas. Em Berlim, elas discutirão sobre os desafios referentes à igualdade de participação das mulheres no mercado de trabalho, no acesso a recursos financeiros e na transformação digital. A nossa plataforma digital do W20 vem constatando uma discussão muito animada desde fevereiro deste ano. Nosso objetivo comum é consolidar o tema da participação e o reforço econômico de mulheres como  um elemento permanente de integração nos objetivos do G20. Para tanto, Women20 tem de se tornar uma voz poderosa no concerto dos grupos de diálogo do G20. Desde que a Alemanha assumiu a presidência do G20, fizemos toda uma série de diálogos do W20 neste país, como também nas Nações Unidas e na Argentina, mantendo, até agora, um diálogo intenso com o “sherpa” alemão do G20 e com outros grupos do G20.

Os temas, que são importantes para as mulheres e pelos quais elas lutam, podem ter correlação internacional com um fator comum?

É triste, mas é verdade que em nenhum dos Estados-membros do G20 se tenha alcançado, até hoje, a igualdade econômica das mulheres. Estas recebem, em média, menos remuneração, têm menos chances de ser promovidas no trabalho e, por outro lado, assumem a maior parte do trabalho não remunerado em casa, na educação dos filhos e na assistência de familiares dependentes. Diversos estudos comprovam que as mulheres têm muito mais dificuldades de acesso a investimentos ou créditos. Em média, as mulheres usam raramente os serviços on-line e possuem pouca ou nenhuma competência digital. Por isso, elas correm um risco maior de pertencerem futuramente aos perdedores da transformação digital, tanto econômica como socialmente. Além disso, o que nos une em todos os Estados-membros do G20 é a importância geral de lutar pela igualdade legal das mulheres e de combater os monopólios de poder caracteristicamente masculinos, os estereótipos e os preconceitos.

Como a senhora avalia a situação das mulheres na economia alemã, comparando-a com a economia global? Em quais setores há grande necessidade de recuperar terrenos perdidos?

Em primeiro lugar, segundo a OCDE, a diferença de remuneração entre os sexos não é em nenhum outro país maior do que na Alemanha. Neste contexto e frente às diferentes biografias de trabalho, a  livre subsistência das mulheres, até em idade alta, é um grande desafio. Para superá-lo, é necessário que haja uma consistente política social, de igualdade, de mulheres, de família e de mercado de trabalho.

Em segundo lugar, a Alemanha não dá um bom exemplo quanto às condições básicas de sintonia entre a profissão e a família, pois a infraestrutura social de cuidado da criança e de familiares necessitados tem de ser ampliada em todas as áreas, de maneira adequada e qualitativamente alta. Devem-se promover as prestações de serviço socialmente asseguradas e próximas à família e isto também com o objetivo de as tornar acessíveis a todas as famílias.

Em terceiro lugar, as competências de meninas e mulheres nos campos das ciências naturais, da tecnologia e do mundo digital têm de ser diretamente promovidas na Alemanha, tanto nos jardins de infância, como nas escolas, nas universidades, na formação profissionalizante e na especialização. E isto durante toda a vida.

A cota de mulheres em diretorias executivas de empresas listadas na bolsa, foi introduzida em 2016. Ela continua tendo efeito? E é o melhor instrumento para se conseguir uma igualdade de participação de mulheres?

As estatísticas são claras: sem a cota não acontece quase nada. Mas ainda é muito cedo para se fazer um balanço. O que podemos é aprender de outros países do G20. Na Noruega, por exemplo, já vigora, desde 2006, uma lei que prescreve um mínimo de 40% de mulheres em grêmios administrativos de empresas listadas na bolsa, fazendo com que a cota de mulheres tenha aumentado rapidamente. Mas também se comprovou na Noruega que essas funções corresponderiam a um círculo exclusivo de poucas executivas, se não houvesse medidas de promoção especificamente femininas que colocassem mais mulheres em posições executivas em todos os setores e a todos os níveis. Por isso, deveríamos trabalhar na Alemanha com maior enfoque de orientação.

Que esperanças a senhora deposita na Cúpula do G-20 sob a presidência alemã? E o que será do W20 depois da Cúpula do G20?

Estamos caminhando da mesinha de canto para a mesa de negociações do G20. O reforço do papel das mulheres é um assunto importante para a chanceler federal Angela Merkel. Por isso, esperamos que o G20, sob a presidência alemã, assuma finalmente uma contínua perspectiva de gênero, com objetivos vinculativos e quantificáveis. Por isso, até a Cúpula do G20, no começo de julho,  manteremos o diálogo de forma intensa. Paralelamente, já estamos trabalhando estreitamente com as associações de mulheres da Argentina, que darão continuação às atividades do grupo W20, pois o reforço econômico das mulheres não é uma corrida de curta distância, mas uma maratona.

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