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“Temos que mostrar coragem civil também na internet”

Amor contra ódio. A conferência digital re:publica 2017 é um sinal contra preconceitos e violência. Esse impulso foi dado por um emocionante discurso da blogueira Kübra Gümüşay.

05.05.2017
© dpa - Kübra Gümüşay

Alemanha. Comentários de ódio na internet, “fatos alternativos” e erosão de valores democráticos são temas explosivos no ano de eleições de 2017. A jornalista e blogueira Kübra Gümüşay, de Hamburgo, acerta em cheio: “O ódio na internet não é virtual, mas real”. Nesta entrevista, ela expõe como se pode conseguir uma mudança na cultura de diálogos.

Senhora Gümüşay, seu discurso “Amor organizado”, na re:publica 2017, comoveu muitas pessoas. A senhora foi a inspiração do lema desta re:publica: “Love out loud!”. Isto é para a senhora uma motivação?

Sim. Fiquei muito feliz. A minha contribuição surgiu de uma frustração. Fico irritada com o fato de que muitas pessoas se dão ao luxo de não se preocupar com determinadas evoluções sociais, de não levar a sério o ódio propagado na internet e de considerar esse fato um reflexo da nossa diversidade de opinião social. Para estas pessoas é mais fácil ignorar o ódio, enquanto outros grupos marginalizados estão diariamente expostos a esse ódio. O Brexit e Trump foram, neste ano, um sinal de alerta para muitas pessoas.  

Quais são as reações ao seu apelo?

Recebi muitas reações positivas, como um pároco que citou minha contribuição no seu sermão de domingo. Isto foi para mim muito bacana e simbólico, pois sublinha que se trata de um tema universal. Muitas pessoas me escreveram pessoalmente, relatando o que meu discurso provocou nelas.

Em 9 de maio, a senhora falará na re:publica sobre „Die Emanzipation der Gutmenschen“ (“A emancipação das boas pessoas”). O fato de esta expressão ser usada pejorativamente diz algo sobre nossa sociedade?

Diz muito sobre a nossa época, quando os que têm de se defender são aqueles que ajudam e que querem praticar o bem e não aqueles que negam sua ajuda. Usei conscientemente esse conceito. Trata-se de não adotar, para si próprio, o significado que o une a outras pessoas. 

A senhora tem esperanças de que a geração que está crescendo venha superar a linguagem do ódio, o racismo, o sexismo e o nacionalismo?

É menos uma questão de geração do que uma questão de estruturas e da cultura democrática de discussão que vivemos ou que negligenciamos. Que cultura de discussão é exigida pelas estruturas das redes sociais, como Facebook e Twitter? Chamar a atenção é nelas um fator constante para criar uma cultura, na qual as posições ruidosas e destrutivas são divulgadas. É o que também se vê nas coberturas da mídia, onde sempre há a presença de provocações calculadas de populistas de direita. Por isso temos de nos perguntar: Como serão os formadores/as formadoras de opinião no futuro? Isto me deixa preocupada. Deposito esperança nos criadores de mídia que procuram transformar as estruturas, partindo do nível tecnológico e cultural, sendo que, neste particular, estou presenciando uma forte juventude que está desenvolvendo uma consciência mais forte de processos políticos.

Refletir, argumentar, criticar construtivamente. Não é também a responsabilidade dos pais e dos professores transmitir uma boa cultura do diálogo?

É importante promover o pensamento crítico em todas as faixas etárias, pois ele é o fundamento de uma sociedade civil engajada. Mas tão importante é também aprender a manifestar sua posição crítica construtiva ou o seu consentimento. Temos de aprender a consentir criticamente. Tenho frequentemente a impressão de que o consentimento é entendido como subordinação. O fato é que nele existe o potencial de desenvolver ideias em comum.

Como uma pessoa pode dar, na internet e no dia a dia, um sinal contra o ódio e a violência?

Em primeiro lugar, é necessário mostrar coragem civil e solidariedade na internet, seja “somente” uma mensagem particular que manifeste aprovação e apoio aos afetados.

Em segundo lugar, não dar muito espaço ao ódio e ao debate populista. Sim, discutir sobre eles e os tematizar, mas sob as próprias condições, como, por exemplo, não discutir seriamente dias a fio se negros podem ser bons vizinhos ou não.

Em terceiro lugar, refletir a própria atuação, também quanto a pessoas que tenham uma opinião semelhante. Temos de expressar mais nosso apoio e consentimento na rede social, em vez de apenas pensar em fazê-lo.

re:publica 17 und Media Convention, 8. – 10.5. in Berlin (re:publica 17 e Media Convention, de 8 a 10 de maio em Berlim)

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