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A nova 
maioridade do leitor

A internet muda o “modus operandi” da literatura. Ler e escrever são, cada vez mais, um ato coletivo.

22.09.2015
© dpa/Dedert - Self publishing, social writing

Autor e leitor estão mais próximos no século 21. O leitor ficou mais perto e surge como membro de uma comunidade digital de leitura. O que diferencia círculos de literatura existentes na internet, como “Goodreads” e o projeto “Sobooks” – este fundado pelo conhecido blogueiro alemão Sascha Lobo, de seus antecessores analógicos é, frequentemente, uma relação simbiótica entre “produtor” e “consumidor”, especialmente na área da literatura de gênero. Na maior plataforma de “social reading” da Alemanha, a “LovelyBooks”, não é incomum quando uma autora de um romance histórico pede conselho a seu fã-clube digital: “Há situações em que qualquer observação de vocês me ajuda concretamente a fazer meu livro melhor!“ A literatura de gênero viveu sempre de seu potencial identificador e, através da participação direta dos leitores, permite potencializar esse princípio. O autor pode não só pensar junto com os leitores, mas também, em caso de necessidade, entrar em contato diretamente com eles. Ou seja, uma consulta ao cliente, em tempo real.

Também fora dos gêneros, a alterada relação leitor-autor pode experimentar novas formas de produção e recepção, como no projeto de livro de Dirk von Gehlen. “Uma nova versão está disponível”. Leitores, que cofinanciaram seu livro através de “crowdfunding”, puderam acompanhar seu nascimento e receberam do autor atualizações periódicas, ficando o processo de redação documentado. Na verdade, em sua maioria eles foram participantes silenciosos, equivalentes aos receptores tradicionais, no sentido original da palavra, muito mais do que nos círculos digitais de leitura; no entanto sua simples existência transformou a postura de von Gehlen ao escrever: “A gente se sente descabelado e sem maquiagem. Os resultados são tornados públicos, mas não podem ser impressos. A diferença para a redação analógica está exatamente aí: a produção on-line é dividida em versões”. O autor parece ficar, consequentemente, mais vulnerável. Tornar visíveis as diversas etapas da produção do texto na era digital significaria então o definitivo fim do conceito de genialidade?

Deixar clara a produção em versões também foi o que pretendeu um grupo de escritores que, no início de 2015, reuniu-se no blogue “Hundertvierzehn”, para escrever juntos o romance-­mosaico “Zwei Mädchen im Krieg” (“Duas meninas na guerra”). A cada semana surgiam três textos, que podiam ser trabalhados publica e visivelmente e comentados pelos demais autores. “Será que meu texto – ao qual cada um dos coautores tem acesso – receberá logo cortes, será complementado, reescrito?”, perguntou Kathrin Röggla no começo da cooperação, num comentário. E: “O material já é substancial?” A autora critica assim não apenas e exatamente aquela ideia de cultura como software, que von Gehlen colocou como base para seu projeto, mas faz, ao mesmo tempo, a pergunta crucial sobre os novos direitos autorais no âmbito de uma simultaneidade 
virtual. Terá o romance, terá a autoria ainda um futuro no 
ambiente coletivo, atemporal, da internet?

A expressão “literatura” ganhou, nas últimas décadas, claramente uma maior abrangência – nem sempre a favor da qualidade literária – e incorporou um novo tipo de escritor, que traz consigo chances e limites de uma nova publicação. O campo experimental digital para autores, leitores e não menos para editoras é amplo e suas possibilidades ainda estão longe de serem esgotadas. ▪