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Agir juntos em prol de 
empregos justos e seguros

As cadeias de abastecimento da indústria têxtil são complexas e confusas. A Alemanha luta por mais transparência, apostando na força de alianças

13.04.2016

Os jeans se amontam desordenados sobre a mesa, antes de serem levados por um trabalhador para serem passados a ferro. O zíper, a etiqueta e todo o resto já foram costurados. A última trabalhadora da fila faz a mesma coisa que já fez milhares de vezes. Mais de 
400 mil calças passam aqui de mesa de costura a mesa de costura. Os empregados só ousam falar de pausas e horas extras em casa. Somente poucos sabem se a fábrica é segura.

“Obviamente, fazemos regularmente simulações de incêndio”, diz o gerente da 
fábrica em Gazipur, perto de Daca, capital de Bangladesh, que confecciona roupas da marca “Pimkie”. Ele faz menção às saídas de emergência e às escadarias, onde o concreto a prova de fogo substituiu o antigo metal. As portas de saída não podem ser trancadas. A Sociedade Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) aperfeiçoou aqui a proteção dos prédios contra incêndio, por encargo do Ministério Federal 
da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ).

Esta fábrica é um modelo exemplar, pois é uma das únicas que também a GIZ assessora nas questões ambientais e sociais. Ela não é um prédio ultramoderno, como os que são construídos na Ásia, mas também não é uma construção malfeita, cheia de rachaduras, como o edifício de oito andares da Rana Plaza, que desabou em abril de 2013, matando mais de 1100 pessoas.

O grave acidente tornou clara a condição desumana de trabalho numa parte da cadeia de abastecimento da indústria têxtil. Bangladesh tem, neste setor, quase quatro milhões de trabalhadores, sendo o segundo produtor depois da China. Desde abril daquele ano, muita coisa aconteceu na política e nesse ramo, em Berlim, em Genebra e em Daca, mas isto ainda não é suficiente.

Problemas graves descobertos

Hoje, a empresa de Gazipur encontra-se entre as quatro primeiras numa escala que vai de fábrica de grande risco a fábrica de alto brilho. O prédio é bem arejado, nenhuma costureira trabalha entre caixas e fardos de tecido. Tudo em ordem e com bastante espaço. Mas os inspetores do “Accord”, uma inspetoria de prédios adotada por 200 cadeias têxteis, descobriram problemas graves, como caixas de distribuição embaixo de escadas, material inflamável perto das pessoas, uma saída de emergência repleta de lixo. E as portas corta-fogo entre os pisos e as escadas são insuficientes.

Mas dois anos depois da inspeção, os deveres regulamentares ainda não foram cumpridos. A fábrica está atrasada, como muitas outras. As portas corta-fogo são caras e sua falta é um mal crônico. O estado da fábrica de Gazipur mostra que a indústria têxtil já acordou, mas que suas falhas não podem ser reparadas tão depressa como algumas pessoas o desejam.

Leis nacionais não são suficientes

Um dos impacientes é Gerd Müller, ministro federal do Desenvolvimento. Quando vai a Daca, como em outubro de 2015, ele se encontra com políticos. Muitos destes são empresários têxteis. “Só leis nacionais não ajudam muito quando uma camisa tem de passar por 140 fases de produção, da plantação de algodão até o ferro de passar roupa”. Müller reforça os deveres do ramo. Ele visita uma fábrica em Daca, a primeira que ele conseguiu associar à Aliança Têxtil Sustentável.

Além do Plano de Ação Nacional para a realização dos princípios diretivos da ONU quanto à economia e aos direitos 
humanos, essa aliança é um elemento importante do engajamento alemão. Depois de um difícil começo em 2014, a metade do ramo têxtil alemão encontra-se agora nessa aliança. São fabricantes, como Adidas, comerciantes, como C&A, organizações não governamentais, sindicatos e associações. Ainda não houve uma mesa redonda desses importantes atores nessa dimensão. E a Alemanha é o maior mercado têxtil da Europa.

Todos os associados se comprometem a 
assumir padrões definidos. Atualmente, eles estão trabalhando para elaborar os “Roadmaps” individuais, em cujas etapas eles querem alcançar objetivos sociais, ecológicos e econômicos para cada nível da cadeia de abastecimento, ou seja, salários dignos, despoluição do meio ambiente, deveres de diligência na compra e outras coisas mais. Estas tarefas têm de estar feitas até fins de 2016. Deverá ser fixado como as melhoras podem ser controladas, medidas e reveladas. Diz-se que as discussões são, às vezes, calorosas. As negociações são em sigilo, o que é uma porta aberta para críticos que observaram que as 65 páginas de acordos, de 2014, se reduziram a onze. Há quem considere que esse projeto foi abrandado. De fato, a política afrouxou as condições para conseguir uma maior participação. Isto significa que cada empresa tem sua própria meta e seu próprio prazo.

Outra coisa seria irrealista do ponto de vista da indústria. As cadeias de produção da indústria têxtil são muito complicadas. Mesmo uma firma como o grupo comercial Otto, que desde dezenas de anos observa a proteção humana e ambiental, está longe de poder explicar todos os elementos da cadeia. A transparência 
é complicada e não pode ser adquirida gratuitamente, diz-se nesta empresa de Hamburgo, que gera dez bilhões de euros do seu volume de vendas com produtos têxteis. Então, por que se esforçar?

Alcançar mais juntos

“O charme das alianças está em juntar forças, que na sua soma possam trazer mais mudanças do que um só ator jamais poderia alcançar”, diz Andreas Streubig, coordenador geral da gestão de sustentabilidade do grupo Otto. Como exemplo, ele cita Accord. Esta aliança mostraria que uma ação concentrada pode fazer surgir uma pressão comercial sobre governos, associações e proprietários de 
fábricas. “Apenas desta maneira surgem mudanças substanciais”.

Através da Aliança Têxtil, Streubig espera conseguir “efeitos sensíveis de como nós fazemos nossos negócios”. Para alcançar um objetivo, como o uso exclusivo de algodão sustentável até 2020, a diretoria deveria decidir implantar novos mecanismos nas cadeias de abastecimento, que “as tornem plenamente transparentes e, sobretudo, controláveis”, pois é necessário que se estabeleça a responsabilidade para padrões de tal maneira que um nível chame à responsabilidade o nível anterior. Este encadeamento se denomina “Chain of custody”.

Mas continua sendo incerto que quase cem firmas da aliança possam garantir que seus produtos são originários de trabalho digno. “Alcançar 100% de sustentabilidade é, a meu ver, uma ilusão”, diz Streubig. “Será um grande desafio dos próximos cinco anos poder controlar o caminho que uma camisa percorre em todas as fases da cadeia de produção, da plantação de algodão até o consumidor, para verificar se tudo ocorreu sustentavelmente, no melhor sentido da palavra”. Para ele, o decisivo é que as empresas comecem a reduzir continuamente essa “zona cinza”.

As antigas nações industriais já haviam tentado reduzir a zona cinza. Na Cúpula dos G7, em junho de 2015, sob a presidência da Alemanha, os chefes de Estado e governo se comprometeram a alcançar uma meta, lutando por cadeias de abastecimento sustentáveis e por melhores padrões trabalhistas, sociais e ambientais, como, por exemplo, através de planos de ação nacionais. Na sua declaração final, os participantes da cúpula conclamaram a economia privada a “cumprir seus deveres de diligência no setor dos direitos 
humanos”. A Alemanha seria pioneira no caminho em busca de padrões justos nas cadeias globais de abastecimento, disse Gerd Müller na conferência dos ministros do Trabalho e Desenvolvimento do G7 em Berlim. Já fora excepcional que as condições de trabalho tivessem sido tema da cúpula dos G7 e que agora os países em desenvolvimento também estejam envolvidos, disse Frank Zach, perito sobre a Ásia na Federação Alemã dos Sindicatos. “Até então, os problemas das cadeias de abastecimento nunca tinham sido um tema no contexto global”. Agora, as boas intenções teriam de ser concretizadas. Para tanto, serve também o planejado “Vision Zero Fund“.

Cultura para a proteção no trabalho

A ideia do fundo baseia-se na suposição de que uma cultura para a proteção no trabalho surja na própria firma. Organizados pelo Estado e parceiros sociais, os primeiros projetos na indústria têxtil já deverão ser promovidos em 2016. Deverão ser formados comitês de segurança no trabalho e criadas associações profissionais. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) gerenciará o fundo, para o qual os governos e as empresas poderão contribuir. Com seu programa “Better Work”, a OIT já vem atuando sobre a política em Bangladesh, para que esta leve mais a sério a proteção no trabalho.

Através da GIZ, a Alemanha contribui 
em Bangladesh para a instrução de mais inspetores estatais, pois ainda há postos vacantes. A Grã-Bretanha, o Canadá e a Holanda já financiaram, através da OIT, um primeiro encontro de inspetores. Hoje não são só 20, mas quase 300 técnicos estatais que percorrem nas suas motocicletas as intrincadas ruas de Daca, de 
metro a metro, fábrica a fábrica, inspeção a inspeção.

Mas a segurança nos prédios ainda não é boa. E a OIT, com vistas a Bangladesh, também concluiu objetivamente: “O desafio é grande para se construir uma cultura de lugares de trabalho seguros e saudáveis no setor têxtil e de praticá-la através de pessoal qualificado”. ▪