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“O que nos une é mais do que a economia”

Educação, juventude, cultura: Bettina Trueb, da Fundação EU-LAC, explica como a instituição fortalece as relações entre a UE e a América Latina.

19.10.2014
© Stiftung EU-LAC in Hamburg/Karin Desmarowitz - Bettina Trueb

Sra. Trueb, há quase três anos a Fundação União Europeia-América Latina e Caribe (EU-LAC) iniciou seu trabalho em Hamburgo. O que ocorreu desde então?

Em novembro de 2011, a gente começou praticamente do zero. No princípio, nós discutimos basicamente qual era nosso lugar na parceria birregional e que contribuição a fundação poderia dar a ela. Esta fase durou aproximadamente dois anos. Desde então, estamos consolidando nosso programa e trabalhamos com vistas ao próximo encontro de cúpula birregional, marcado para junho de 2015 em Bruxelas.

Quais são as áreas em que a Fundação EU-LAC está atuando?

Desenvolvemos quatro programas de trabalho. Um deles é o “Explora – Pesquisa e novos Desenvolvimentos”. Através dele, encomendamos estudos e envolvemos a comunidade acadêmica em debates sobre as relações birregionais. Com o programa “Comunica – Comunicação e Cultura”, nós divulgamos o trabalho da fundação e as relações birregionais como um todo. O “Conecta – Construção de Redes“ deve interligar as existentes e construir novas redes, por exemplo para a juventude. Queremos conectar atores da sociedade civil, da política, da ciência e da pesquisa, da economia e da cultura. O quarto programa – “Emprende” – dirige-se sobretudo às pequenas e médias empresas de ambos os lados do Oceano Atlântico. Queremos colocá-las em contato entre si. Com frequência falta aos responsáveis o conhecimento sobre o que lhes espera na outra região e que instrumentos eles podem utilizar.

Como funciona o trabalho nestas áreas concretamente?

Nós buscamos, de forma objetiva, novos caminhos. Por exemplo, em 2014, publicamos um estudo sobre os potenciais econômicos da cooperação entre os países do Leste Europeu e os Estados da América Latina e do Caribe. Os países do Leste da UE só possuem, até agora, poucos contatos com os países latino-americanos, pois tradicionalmente eles se concentraram sua atenção nos Estados vizinhos, como a Rússia e os países do Cáucaso. Através do nosso estudo, queremos motivá-los a utilizar para si todas as vantagens da parceria birregional e a desempenhar um papel ativo nas relações diplomáticas e econômicas.

Existem parceiros – como os países do Mercosul ou os membros da Aliança do Pacífico –, para os quais a fundação dá mais atenção do que com os outros?

Nós tentamos evitar um foco em países ou regiões específicas. No entanto, nosso objetivo é integrar também aqueles países que, de outra maneira, não se envolveriam de forma ativa. Estes são, por um lado, os países do Leste da União Europeia, como a Polônia, a Hungria e a República Tcheca. Do outro lado, tentamos valorizar os países do Caribe. A maioria destes países não possui representação diplomática aqui na cidade. Por esta razão, nós os convidamos em maio a se apresentarem em Hamburgo, por ocasião da longa noite dos consulados. Nós abrimos a porta da fundação para eles, para que também pudessem apresentar-se.

O trabalho da fundação, portanto, vai além das relações econômicas?

Com toda certeza. As vantagens econômicas, por exemplo de um acordo de livre comércio, são mais perceptíveis, mas existem muito mais temas, nos quais as duas regiões podem cooperar. A política de apoio ao desenvolvimento, por exemplo, está sendo, neste momento, completamente redefinida e de modo multilateral. No ano de 2015, vão expirar os prazos das metas de desenvolvimento do milênio. Depois, irão valer as novas, assim chamadas, metas do desenvolvimento sustentável. Já que deverá haver menos cooperação bilateral para o desenvolvimento entre países europeus e latino-americanos, queremos observar como as regiões trabalharão conjuntamente no futuro. Alguns países latino-americanos, como o Brasil, aparecem agora como países financiadores, de modo que podemos imaginar cooperações trilaterais, cada uma com um país do Caribe, da União Europeia e da América Latina.

Qual o papel da Alemanha nessa parceria estratégica?

Através da sede da fundação em Hamburgo e como um dos maiores países financiadores, a Alemanha assume um papel relevante. Isto vale igualmente para o engajamento político. A Alemanha está entre os países mais ativos dentro da parceria. Além disso, possui ligações históricas com os países da América Latina e do Caribe. Justo Hamburgo tem, através de seu porto, relações comerciais consolidadas e muitas representações diplomáticas. Esta foi igualmente uma das razões para sua escolha como cidade-sede da fundação.

Como estão os preparativos para o próximo encontro de cúpula em Bruxelas?

Nós apoiamos o segundo encontro de cúpula acadêmico europeu-latino-americano, assim como um encontro econômico, e coordenamos uma orquestra birregional infanto-juvenil, que irá apresentar-se em Bruxelas. Antes do encontro, ainda queremos divulgar alguns estudos, além de que realizamos uma série de seminários para refletirmos, com diversos grupos de pesquisadores e da sociedade civil, mas também com representantes governamentais e outros, sobre o futuro das relações birregionais: Para onde se deve ir? Que potenciais existem? Os resultados ainda precisam ser avaliados. Não podemos nos queixar de falta de trabalho. ▪

Entrevista: Constanze Bandowski