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“A Alemanha apoia claramente 
o processo de paz”

Após cinquenta anos de guerra civil, há esperança de um acordo na Colômbia. Um diálogo com Tom Koenigs, enviado especial do ministro federal das Relações Externas, Frank-Walter Steinmeier

15.01.2016

Sr. Koenigs, o governo colombiano e as FARC assinaram em setembro de 2015 um acordo para a construção de uma “Unidade Especial para a paz”. Que importância tem esse acordo para o processo de paz?

Uma grande importância. Foi muito difícil conseguir esse acordo, porque as ideias sobre essa unidade eram as que mais se afastavam umas das outras. O aperto de mão entre o presidente colombiano e o agente de negociações das FARC foi um sinal de que todos estão dispostos a chegar a um resultado, dentro de um prazo previsível. Mas ainda há questões abertas, por exemplo a de como será composta a Unidade Especial e qual será o alcance das anistias.

Quais são os próximos passos para o acordo de paz?

O próximo passo, que já está em vista, é uma trégua bilateral. Ambos os partidos desejam que essa trégua seja feita em curto prazo. E isto não é uma utopia, pois se pode constatar, por exemplo, que o número de vítimas causadas pelos conflitos militares, já se reduziu claramente, uma vez que, nos últimos 50 anos, era de cerca de 170 vítimas por mês, mas agora baixou para 30 ou 40 vítimas mensais.

Na sua opinião, onde existem riscos que poderiam fazer fracassar esse acordo de paz?

Sempre existem perturbadores no setor militar, que tentam contornar os acordos feitos. Tais provocações já tinham surgido em abril de 2015 e quase provocaram a estagnação do processo de paz. Isto pode se repetir a cada momento, principalmente porque ainda não existe nenhum controle imparcial que possa averiguar primeiramente a redução de hostilidades e, depois, a trégua.

Como poderia ser tal controle?

O presidente colombiano Juan Manuel Santos declarou que fará esforços junto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para obter um mandado para a constituição de uma comissão de controle. Contudo, ainda não se sabe como se deverá trabalhar em tal missão e quem deverá fazer parte dela. Existe o desejo de envolver organizações latino-americanas, ao lado das Nações Unidas. A guerrilha é a favor de uma participação da UNASUL, organização que agrega doze países sul-americanos, antes de esquerda. Para o governo federal, a escolha recairia sobre a Organização dos Estados Americanos, da qual os Estados Unidos também fazem parte.

Excetuando-se os partidos em conflito, a população colombiana estaria a favor do acordo?

Há ceticismo e uma força no Parlamento que articula esse receio. É o Partido Centro Democrático do ex-presidente Álvaro Uribe, que se opõe intensamente contra o processo de paz e que quer derrubar esse processo, em último caso através de um referendo. Determinadas camadas e grupos da população apoiam este partido. É óbvio que as associações que representam as famílias das vítimas não fazem parte dessa oposição. Elas são a grande maioria e lutam pela paz, inclusive pelo acordo sobre uma justiça transitória. O que noto na discussão é que todos os que são contra o processo de paz argumentam sempre partindo do passado e não têm muita ideia sobre o futuro.

Mas os que aprovam o processo de paz têm de saber como eles poderão integrar o grande número de guerrilheiros depois da desmobilização. Como isto poderá ser feito?

Cerca de 10 000 a 12 000 deles têm de ser integrados, o que é, sem dúvida, uma grande tarefa. Mas a Colômbia não é um país pobre e, além do mais, ela tem uma forte sociedade civil. O maior problema – e o motivo pelo qual a guerrilha surgiu e pôde existir por tanto tempo – foi o abandono de regiões inteiras que não puderam ser integradas no crescimento econômico. As reformas e a modernização da economia nessas regiões abandonadas são um desafio que, em determinados aspectos, pode ser comparado com a integração econômica da antiga RDA na nova República Federal da Alemanha. Além disso, existe também algo inusitado para a democracia colombiana: o fato de que nos parlamentos haverá futuramente – e terá de ser aceita – uma clara oposição de esquerda contra as tradicionais elites do poder.

De que maneira a Alemanha apoia o processo de paz e as transformações sociais?

A Colômbia está muito atenta ao que ocorre na Alemanha, tendo por esta uma grande amizade. Os turistas e os políticos alemães encontram na Colômbia uma grande franqueza. Há um intenso intercâmbio acadêmico, com 160 tratados de cooperação entre universidades e instituições educacionais de ambos os países. Uma longa tradição existe também na cooperação para o desenvolvimento. Tudo isto pode ser intensificado. Mas o mais importante, no momento, é que a Alemanha apoie claramente o processo de paz. E isto não é óbvio. Antes da administração de Obama, os Estados Unidos, por exemplo, sempre estiveram a favor das soluções militares. Apoiando explicitamente as negociações de paz, a Alemanha confirmou claramente a sua posição política.

Quando se fala de “responsabilidade alemã”, não se pensa na América Latina e sim nos focos de crise do Oriente Médio ou na pobreza na África. Isto é uma percepção falsa?

Nós nunca fomos um poder colonial na América Latina e, portanto, somos vistos de maneira diferente da Espanha e de Portugal. Mas existe uma responsabilidade de firmas alemãs na Colômbia, também como compradoras de matéria-prima colombiana. Este é um tema controverso, pois a indústria de matéria-prima colombiana pôde, até agora, tirar proveito da guerra e das discussões. Neste particular temos realmente de assumir responsabilidade. Estamos nos esforçando agora para solucionar um conflito existente, através de meios pacíficos. Incluir a economia de importação e exportação nesse processo é um imperativo do momento. ▪

Entrevista: Helen Sibum