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Os caçadores do Corona na Alemanha

Biontech e Curevac obtiveram grande êxito com o desenvolvimento de vacina contra Covid-19. Leia aqui o que destaca as duas empresas.

Sebastian Balzter, 11.03.2021
Corona
© BioNTech SE 2020

Os médicos Uğur Şahin e Özlem Türeci não tinham a intenção de fundar uma fábrica de vacinas. Tratava-se de algo inteiramente distinto quando os dois cientistas da Universidade de Mainz, casados e parceiros de negócios, apresentaram aos financiadores suas ideias para uma nova empresa farmacêutica, no outono de 2007. Şahin e Türeci, cujos pais tinham vindo da Turquia para a Alemanha, tinham como objetivo nada menos que revolucionar a medicina do câncer com sua empresa Biontech. Os investidores gostaram do projeto. Afinal, na época, uma nova terapia contra o câncer era um objetivo muito mais ambicioso e comercialmente também muito mais viável do que trabalhar numa vacina contra doença pulmonar transmitida por vírus.

Isto mudou abruptamente quando o Covid-19 foi diagnosticado pela primeira vez e os pesquisadores chineses publicam o genoma do coronavírus em janeiro de 2020. Na sede da Biontech em Mainz, Şahin e Türeci não hesitaram por muito tempo. Eles decidiram sobre um novo programa de pesquisa e lhe deram o nome de “Lightspeed”. Isso parece um exagero, mas é uma descrição precisa. Apenas algumas semanas depois, o laboratório da Biontech encontrou o que se revelou ser o ingrediente ativo certo. Os testes clínicos em dezenas de milhares de voluntários começaram na primavera. Em novembro, resultados extremamente positivos já estavam disponíveis. E desde dezembro, as campanhas de vacinação estão em andamento em distintos países, o que cria esperanças de que a pandemia seja superada.

26 projetos somente na Alemanha

Normalmente, são necessários vários anos para desenvolver uma nova vacina; neste caso, ela foi criada no tempo recorde de menos de doze meses. No total, a Organização Mundial da Saúde (OMS) cita 240 projetos para desenvolver vacina contra o coronavírus; 26 deles na Alemanha. Nenhum projeto atingiu a meta mais rapidamente que a Biontech.

Vorbereitung einer Impfung
© picture alliance/dpa

A vacina BNT 162b2 é desenvolvida, produzida e distribuída juntamente com a grande ­empresa farmacêutica americana Pfizer com sua organização global. Mas a propriedade intelectual é ­detida pela Biontech, a pequena “start-up” de Uğur Şahin e Özlem Türeci em Mainz, que nunca lançara antes qualquer medicamento no mercado. Dois aspectos tornam o sucesso da Biontech particularmente notável. Primeiramente, uma empresa ­novata neste campo ultrapassa experientes fabricantes internacionais de vacinas, como a Sanofi da França, a Glaxo-Smith-Kline (GSK) e a Astra-­Zeneca da Grã-Bretanha. Em segundo lugar, isto prova que uma nova técnica, o uso do chamado RNA mensageiro (m-RNA), é superior a outras abordagens há muito testadas.

Biontech utiliza um novo método: mRNA

A vacina da Biontech contra o Corona é o primeiro medicamento aprovado no mundo a utilizar este processo. O ácido ribonucleico utilizado para isso – uma espécie de irmão do DNA (ácido desoxirribonucleico) que carrega material genético – fornece ao organismo esquemas genéticos para se defender contra vírus ou outras doenças. Esta é uma ideia na qual Uğur Şahin e Özlem Türeci vêm trabalhando há anos para seus novos medicamentos contra o câncer.

Mas os dois empresários e pesquisadores de Mainz não são os únicos que trabalham com ­esta tecnologia na Alemanha. A empresa de biotecnologia Curevac, fundada em 2000 pelo biólogo molecular Ingmar Hoerr está sediada em Tübingen, a apenas 250 quilômetros a sudoeste de Mainz. ­Hoerr é um pioneiro do mRNA e, desde o início, destinou sua empresa a pesquisar as possibilidades desta tecnologia. Ele também estabeleceu uma meta inicial de utilizá-la para desenvolver uma vacina contra o Corona. Numa ação muito incomum, o governo alemão investiu até mesmo 300 milhões de euros na empresa para mantê-la na Alemanha a longo prazo.

Entretanto, os próximos passos no caminho para uma possível aprovação e lançamento no mercado não foram tão rápidos quanto com a Biontech. A Curevac formou entretanto uma aliança com a grande empresa farmacêutica alemã Bayer para desenvolver ainda mais seu próprio projeto de vacina, denominado CVnCoV. A Curevac está trabalhando também com a GSK da Grã-Bretanha. Os resultados dos estudos clínicos deverão estar ­disponíveis em meados de 2021, quando a vacina contra o Corona da Curevac também deverá ser aprovada.

Êxito de pesquisa aumenta valor na Bolsa

Curevac e Biontech tornaram-se no ano passado as empresas de biotecnologia mais conhecidas da ­Alemanha com sua luta contra a pandemia do coronavírus. Ambas as empresas são de propriedade ­majoritária de bilionários alemães: o fundador da SAP, Dietmar Hopp, é um dos principais acionistas da Curevac há muitos anos, e os empresários farmacêuticos Thomas e Andreas Strüngmann são investidores iniciais da Biontech. Ambas as empresas trabalham com a Fundação Bill e Melinda Gates há algum tempo. A Curevac coopera com a fundação para desenvolver vacinas contra a malária e o vírus Rota, enquanto a Biontech objetiva desenvolver vacinas contra tuberculose e HIV. As duas empresas foram recentemente listadas na bolsa Nasdaq em Nova York, na qual a Curevac estava avaliada em cerca de 18 bilhões de dólares e a Biontech em pouco menos de 25 bilhões de dólares, em meados de janeiro.

Ministério fomenta a pesquisa

Finalmente, o Ministério Alemão de Pesquisa está financiando maciçamente tanto a Curevac quanto a Biontech, para acelerar o desenvolvimento e a produção da vacina contra Corona. No total, até 750 milhões de euros foram destinados ao progra­ma especial em 2020 e 2021. No mesmo programa, o Ministério também está apoiando uma terceira empresa que está muito menos nas manchetes: a IDT Biologika de Dessau, na Saxônia-Anhalt. A empresa, fundada em 1921 e de propriedade de uma família de empresários, normalmente produz medicamentos em nome de outros grupos farmacêuticos, mas agora está tentando desenvolver sua própria vacina. Para isso, está usando um processo convencional baseado numa cepa do vírus da varíola, que tem sido usada há décadas para vacinações. O processo para a sua aprovação começará o mais cedo no final de 2021, provavelmente não antes de 2022. Isto não é a velocidade da luz. Mas, por outro lado, a vacina de Dessau poderia um dia ser muito mais barata de produzir e mais fácil de manusear do que a BNT 162b2 de Mainz ou a CVnCoV de Tübingen.

© www.deutschland.de

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