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“Não devemos nos recolher 
em casulos nacionalistas”

John Whitehead, diretor do British Council, aposta no entrelaçamento cultural para a superação da crise.

19.06.2013
John Whitehead, British Council, Berlin
© David Ausserhofer - John Whitehead, British Council, Berlin

Sr. Whitehead, encontra-se a Europa não apenas numa crise financeira, mas também numa crise de identidade cultural? Não chegou agora a hora da cultura, a hora de uma grande ideia?

Sem qualquer dúvida, a cooperação cultural desempenha um papel-chave especialmente nas épocas de crise. Pois em tais épocas os problemas sociais se agravam e os velhos preconceitos voltam à superfície. Tanto maior é a seriedade com executamos a nossa tarefa, de incentivar o intercâmbio de conhecimentos e ideias – somente assim é possível evitar também uma crise intelectual. Por isto, não acredito que tenha chegado a hora de uma grande, abrangente ideia. As organizações culturais têm de ajudar as pessoas a abrir seus próprios horizontes. Então, elas podem encontrar inteiramente sozinhas as respostas para as questões sociais.

Qual é propriamente o elemento 
de ligação na cultura europeia – 
se se deixa de lado, por um momento, as linhas históricas de ligação?

Frequentemente, o primeiro passo é dado, quando se cria um ambiente no qual pode ocorrer um intercâmbio entre as pessoas. Quanto mais nos comunicamos, tanto mais fácil surgir compreensão e confiança recíprocas. E, no final, também cresce desta maneira uma cultura de ligação, que abre novas possibilidades para todos os envolvidos. Isso é demonstrado, por exemplo, pelas experiências que tivemos na Irlanda do Norte: é importante ajudar as pessoas a se liberarem da identidade “unilateral, isolada”; do contrário, são erguidas ainda mais barreiras, que não permitem nenhuma influência de fora.

Desemprego, falta de perspectivas. O que a cultura pode lograr num 
clima como este?

Para a superação da crise, é preciso continuar investindo no trabalho cultural. Apesar disto, é sempre difícil avaliar e medir com dados numéricos os efeitos do trabalho cultural. Os projetos culturais necessitam de tempo para produzir frutos. Eu espero que a política continue convencida da importância do nosso trabalho.

Héctor Abad, o escritor colombiano, manifestou recentemente o receio de que a Europa tenha perdido a alegria dos anos iniciais. Ele vê nisto o perigo de que populistas possam transportar a União Europeia de volta aos pesadelos nacionalistas. É esta uma típica visão “de fora”?

Isto é bem possível. Exatamente por este motivo é tão decisivo o entrelaçamento cultural na Europa. Não podemos nos retrair em casulos nacionais, mas temos de fomentar e de cuidar do intercâmbio. Mas inteiramente à parte da crise europeia: também a globalização impôs em muitos países uma transformação social e política.

A senhora tem uma concepção 
da Europa como lugar de anseios culturais?

O fascinante na Europa é que existem tantos juízos, opiniões e manifestações diferentes da cultura. É um lugar de transformação, de diversidade e de discussão. Apesar disto, muitos se perguntam na comunidade, se e como devemos prosseguir esta discussão. Continua sempre interessante e eu estou ansioso pelo futuro.

Como o senhor avalia a situação no seu país natal? E como reage a ela na sua programação na Alemanha?

Naturalmente, existem na Grã-Bretanha algumas suscetibilidades em relação à UE, entre outras coisas, geradas e fortalecidas através da crise do euro, mas também porque a UE se encontra numa encruzilhada. Está sendo avaliado agora de que forma se deve prosseguir. Cada instituto cultural europeu representa interesses nacionais próprios. Ao mesmo tempo, todos nós sabemos que a Europa é um continente com um passado conjunto e com valores comuns. Como um dos fundadores da EUNIC, a comunidade dos institutos culturais europeus, nós nos engajamos pela pluralidade da cultura europeia. E finalmente: nós construímos pontes também com a ajuda do idioma.

JOHN WHITEHEAD é diretor do British Council Alemanha em Berlim. Após estações no British Council na Grã-Bretanha, América Latina, Norte da África, Europa e, por último, na Tailândia, John Whitehead foi transferido em 2010 para a capital alemã.

www.britishcouncil.de