“O entusiasmo pela Europa tem de ser renovado em toda geração”
Matthias Makowski, diretor do Instituto Goethe de Atenas, traça linhas de ligação da cultura.

Sr. Makowski, encontra-se a Europa não apenas numa crise financeira, mas também numa crise de identidade cultural? Não chegou agora a hora da cultura, a hora de uma grande ideia?
Eu não tenho esperança quanto à grande ideia que venha salvar a Europa da sua crise de identidade. A Europa é composta de muitas peças. O presidente do Instituto Goethe, Klaus-Dieter Lehmann, descreveu isto há um ano, da seguinte maneira: “A Europa não é nem um cadinho, nem um prato de salada, mas sim um mosaico”. A crise com certeza também está ligada ao fato de que vemos a Europa como algo natural. Na verdade, o entusiasmo pelo projeto Europa tem de ser readquirido em cada geração. Mas não creio que possa ocorrer o lançamento de uma grande ideia. Conto mais com o encontro e o diálogo em pé de igualdade na cooperação prática.
Qual é propriamente o elemento de ligação na cultura europeia – se se deixa de lado, por um momento, as linhas históricas de ligação?
A ligação de hoje na cultura europeia está exatamente nestas linhas de ligação – assim sendo, a pergunta não pode ser respondida. É um paradoxo: a Europa é um continente de muitas línguas, mas nas formas de expressão cultural encontra-se algo como uma língua comum europeia. Um filme finlandês ou uma peça de teatro grego parecem mais próximas que uma obra do Uruguai ou do Vietnã.
Desemprego, falta de perspectivas. O que a cultura pode lograr num clima como este?
Principalmente na crise é quando as pessoas são acessíveis às ofertas culturais – por motivos mais diversos. A cultura ajuda a dar orientação, a esclarecer questões, às vezes oferece a chance de esquecer o dia a dia – isto é bastante.
Héctor Abad, o escritor colombiano, manifestou recentemente o receio de que a Europa tenha perdido a alegria dos anos iniciais. Ele vê nisto o perigo de que populistas possam transportar a União Europeia de volta aos pesadelos nacionalistas. É esta uma típica visão “de fora”?
Eu não vejo a Europa de fora, em Atenas estou dentro dela. Mas é real o perigo da renacionalização.
Como o senhor avalia a situação no seu país anfitrião, a Grécia? E como reage a ela na sua programação?
A situação na Grécia piorou rapidamente nos últimos anos. Também e em especial para os chamados grupos autônomos, com os quais o Instituto Goethe coopera há anos. Nós damos continuidade a este trabalho. Mas muitos gregos são mobilizados no momento por uma questão: ficar ou emigrar? O Instituto Goethe faz desta pergunta uma temática: nos trabalhos da programação, mas também de forma prática na cooperação educacional, quando apoiamos o início de um sistema dual de formação profissional na Grécia. E, naturalmente, muitos gregos aproveitam as nossas ofertas de aprendizado. Mas não necessitamos de listas de espera – como se costuma afirmar.
Fala-se frequentemente de ressentimentos antialemães na sociedade grega. Como o seu instituto responde a isto?
Na Grécia, é preciso observar de maneira diferenciada os ressentimentos antialemães. Minha impressão é que as posições críticas quanto à Europa são logo projetadas na Alemanha, o que é compreensível quando se considera a história comum. Nós não reagimos explicitamente a isto. Mas sempre foi a nossa tarefa, mostrar uma imagem realista da Alemanha. Os 60 anos de cooperação bem-sucedida em Atenas ajudam a manter nossa credibilidade.
O DR. MATTHIAS MAKOWSKI é chefe do Instituto Goethe de Atenas e diretor regional. Antes de ser transferido para a capital grega, o germanista trabalhou, entre outros lugares, em Praga e como chefe de seção na central do Instituto Goethe em Munique. www.goethe.de