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“Poderia ter havido uma matança”

Um dossiê sobre o 25º aniversário da Queda do Muro. Na 6ª parte, o autor Sascha Lange narra a situação tensa durante a grande Manifestação da Segunda-feira em Leipzig.

09.05.2014
Sascha Lange - Fall of the Wall
Sascha Lange - Fall of the Wall © Sascha Lange - Fall of the Wall

“É exatamente um mês antes da Queda do Muro, dia 9 de outubro de 1989. Estou na praça Augustusplatz. Tenho 17 anos de idade. As pessoas se juntam à minha volta. Na igreja Nikolaikirche, logo na esquina, terminou neste momento a oração pela paz. Cada vez mais pessoas dirigem-se para a praça, à minha volta. Milhares e logo, dezenas de milhares. Como se as pessoas soubessem que esta seria a decisiva Manifestação de Segunda-feira. 70.000 pessoas estão à minha volta, entre a Ópera e a Gewandhaus e também em todas as partes. Mas: tudo está calmo. Não vejo nenhuma faixa e não ouço ninguém escandir lemas. Em direção à estação ferroviária central, as ruas estão cheias de policiais uniformizados e grupos de combate. Todos estão tensos. Penso nos boatos que ouvi: de que os hospitais de Leipzig teriam mandado para casa todos os doentes sem gravidade, a fim de desocupar os leitos para eventuais feridos após os tiroteios. E que teriam encomendado reservas adicionais de plasma sanguíneo. Que poderia haver uma matança. Postada a curta distância, a polícia só necessitaria de uma única ordem para isto. Ninguém à minha volta sabe o que ocorrerá realmente, sabe como terminará a noite.

 

No meio de 70.000 rostos, vejo então o meu pai, o autor satírico Bernd-Lutz Lange. Um acaso. E que acaso. Ele faz parte dos ‘Leipziger Sechs’, ou seja daquele grupo de seis pessoas que desempenharam um papel central nesse dia, com a sua conclamação à não violência. Ele me conta o que ninguém ainda sabe e que só depois seria divulgado pela estação local de rádio: que a polícia e os grupos de combate não fariam intervenção. Que não haveria nenhum morto, nenhum massacre. Este dia, esta Manifestação de Segunda-feira é para mim muito mais importante que a posterior Queda do Muro. Minha vida mudou basicamente depois da Queda do Muro. Antes eu vivia na ditadura do proletariado e agora, ao contrário, vivo – por mais estranho que isto possa parecer – na ditadura do capital.”

 

Sascha Lange nasceu em 1971 e vive desde então em Leipzig. Ele tem formação como marceneiro de teatro, doutorado em História, é jornalista e escreve tanto romances, como livros de não ficção. Juntamente com Dennis Burmeister, publicou em 2013 o livro “Monument”, a primeira resenha completa da obra da banda Depeche Mode. Seu romance mais recente, “Das wird mein Jahr”, foi lançado em 2011.

 

Protocolo: Matthias Jügler

 

http://scherbelberg.wordpress.com

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