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Pode-se aprender democracia?

Agência Federal de Educação Cívica: Um antigo defensor dos direitos civis é o responsável pela educação cívica. Leia aqui, se ele acredita que é possível aprender democracia.

04.12.2019
Thomas Krüger
Thomas Krüger © bpb/Martin Scherag

Pode-se absolutamente aprender democracia, Sr. Krüger?

Thomas Krüger: A democracia em si vem do berço para todas as pessoas. Cada pessoa tem interesses próprios e quando ela se manifesta sobre isso numa comunidade, seja a família, o círculo de amigos ou a vizinhança, então já há um processo de negociação, no qual há que se aceitar compromissos. O que se necessita de aprender na democracia são os seus processos e regras.

E se pode ensinar democracia?

Com toda certeza! A história da educação cívica mostrou que ela é um instrumento muito bom para a transformação das mentalidades e opiniões na Alemanha. Após a Segunda Guerra Mundial, os Aliados exigiram isso da Alemanha. Explicando de forma simples, eles desejavam tornar democratas os nazistas, através da educação. Naturalmente, o ensino de e sobre democracia mudou e desenvolveu-se no correr dos anos. A Agência Federal e também as agências estaduais se orientaram sempre pelos grandes temas sociais. No início estava em pauta a discussão sobre o passado nacional-socialista, então veio o debate sobre a educação na década de 1970, o movimento pelo meio ambiente e a paz na década de 1980, finalmente os temas da Europa na década de 1990. Os temas da educação cívica estão sempre relacionados com a situação da sociedade alemã federal.

Nós devemos oferecer educação cívica, sem sermos instrumentalizados por um ou outro partido. A demo­cracia baseia-se no direito básico à liberdade – e a liberdade sempre tem diversas opções.

O senhor, pessoalmente, teve de aprender democracia?

Eu tive e quis. Eu tive, porque também na RDA foi oferecida “educação cívica”. No entanto, como agitação e propaganda, a fim de dirigir os cidadãos para a linha do socialismo existente. Mas havia também uma educação cívica informal – que eu queria. Muitos alemães orientais fizeram a própria educação cívica, em círculos de leitura, rodas de discussão, na vizinhança. Isso foi assim também para mim, participei constantemente de tais círculos nos movimentos pacifistas e de oposição das décadas de 1970 e 1980. Tomamos conhecimento de todas as posições possíveis, líamos tudo a que tínhamos acesso. Não se deve subestimar os alemães orientais, eles se autoeducaram politicamente com todas as fontes que puderam conseguir.

Como se ensina democracia a pessoas pouco interessadas, talvez também com baixo nível de educação?

É preciso ter muito cuidado com os conceitos, pois eles têm facilmente um tom pejorativo velado. Mas, naturalmente, a política espelha-se em níveis muito diversos nos distintos ambientes sociocul­turais. Desenvolvemos programas especiais para isso, para os diversos tipos de escola, a fim de chegar também às pessoas que não leem muito. Nós nos dirigimos a elas sobretudo com imagens (em movimento) e menos com materiais baseados em texto.  

Toda criança na Alemanha fica conhecendo as brochuras da Agência Federal nas escolas...

Isso é provável. Mas as transformações da mídia são também um desafio para a educação cívica. Con­tudo, nós também chegamos hoje até pessoas, que antes quase não podiam ser alcançadas. Pessoas que vivenciaram a política frequentemente como discriminação e para quem a formação escolar não foi uma história de êxito, mas sim a história do próprio fracasso. A essas pessoas podemos hoje fazer ofertas, que antes não eram possíveis. Por exemplo, cooperamos com emissoras privadas de TV nas séries que, à primeira vista, nada têm que ver com política. Aí surgem então temas como extremismo, extremismo de direita, segregação, racismo e eles são discutidos então. Isso funciona muito bem. Nossos maiores êxitos na educação, contudo, foram obtidos com os videoclipes no YouTube. Nesse caso, em vez de professores profissionais são os chamados “influencers”, os que apresentam os con­teúdos e alcançam um determinado público-alvo com toda a sua própria credibilidade. Também aí se trata de salafismo, extremismo, extremismo de direita ou das consequências da Queda do Muro.

Sem exceção, temas muito complexos...

Muitas formas da participação democrática, a participação dos cidadãos, são inicialmente complexas. Elas tratam de processos complicados, por exemplo, nos projetos de construção. Estudos comprovam que são sobretudo as pessoas com maior nível de instrução que participam disso. Mas as formas de participação também podem ser organizadas de maneira menos complexa. Um exemplo disso é o chamado “Wahl-O-Mat”, no qual os cidadãos podem descobrir on-line, com base em 38 teses, qual o partido que melhor representa as suas opiniões. Essa é uma oferta que condensa os programas partidários e oferece um acesso lúdico para ocupar-se da política. O “Wahl-O-Mat” alcança muitos milhões de pessoas e tornou-se uma espécie de esporte popular democrático. Também para pessoas que não se ocupam diariamente com política. Nossa tarefa é desenvolver formatos que tenham poucas barreiras e permitam a participação das pessoas na democracia, em vez de segregá-las.

Como o senhor mede o êxito do seu trabalho?

A constatação da eficiência é algo difícil, pois a aceitação da democracia não depende apenas da educação cívica. Mas nós podemos medir, se as pessoas fazem uso das nossas ofertas. Eu acredito também que a educação cívica desempenhe um papel sobretudo a partir do aspecto qualitativo. Tome como exemplo o debate do clima, que interessa a muitos, principalmente aos jovens. Muitos deles formaram a sua opinião com materiais da Agência Federal, como mostram muito claramente as enquetes e os dados de acesso. Nós fornecemos antecedentes, informações e contextos. Aqui, a educação cívica contribui para alçar a qualidade da discussão a um determinado nível, para debater com argumentos. Bem próximo da reivindicação do filósofo Immanuel Kant: “Tenha a coragem d
e fazer uso do seu próprio juízo”.

Os políticos na Alemanha estão contentes com o trabalho da Agência Federal?

Essa questão não se coloca para nós. Nós devemos oferecer educação cívica, sem sermos instrumen­talizados por um ou outro partido ou governo. Nós reproduzimos as posições governamentais e as da oposição. Do ponto de vista da organização, estamos também garantidos contra influências, através de diversos grêmios. Além disso, o nosso trabalho baseia-se desde a década de 1970 em três princípios. O “mandamento da controvérsia” nos obriga a espelhar de forma controversa tudo aquilo que é controverso também na sociedade. A “proibição de predomínio” exige que eduquemos sem agitação, propaganda e imparcialidade. Finalmente, a orientação para os aprendizes exige educar a capacidade de análise política das pessoas, de acordo com as suas capacidades e o seu nível de instrução. A educação cívica não pode ser um evento elitista. Os cidadãos e as cidadãs devem ficar conhecendo suficientes argumentos, a fim de poder formar uma opinião própria bem fundamentada. Sabe-se que a democracia se baseia no direito básico à liberdade – e a liberdade sempre tem diversas opções.

Entrevista: Arnd Festerling

AGÊNCIA FEDERAL DE EDUCAÇÃO CÍVICA

A Agência Federal de Educação Cívica (BpB) está subordinada ao Ministério Federal do Interior e deve “consolidar a consciência democrática e fortalecer a disposição de participação política”. Entre suas publicações mais importantes está “Informações sobre educação cívica”. A ela somam-se numerosas coleções de material e ofertas para crianças, jovens e adultos, impressas e digitais. Há, além disso, vídeos e “newsletter”. A BpB organiza seminários e congressos. Internacionalmente, ela participa da Rede de Educação da Cidadania na Europa (NECE) e no Mundo Árabe (NACE).

www.bpb.de

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