A costura como idioma universal
Uma oficina de costura em Frankfurt do Meno mostra como a diversidade contribui para o sucesso: aqui, pessoas de várias nações trabalham juntas, enriquecendo assim a empresa.
Falta de trabalhadores qualificados? Em Frankfurt, a estilista e costureira Claudia Frick conseguiu suprir a demanda com uma medida incomum, que acabou se tornando um modelo de sucesso.
Há algo de encantador na ampla e iluminada oficina da “Stitch by Stitch”, em Frankfurt do Meno. Não é apenas pela abundância de tecidos e fios empilhados, dos moldes meticulosamente organizados nos cabideiros e das mulheres concentradas sobre as máquinas de costura, produzindo peças bonitas e funcionais. O que acontece aqui é tão improvável quanto um príncipe sapo ou um gato de botas: Que costureiras qualificadas na Alemanha produzam peças de amostra e pequenas coleções de até 500 unidades para marcas e estilistas independentes.
A diretora da Stitch by Stitch, Claudia Frick, também teve essa experiência. Quando, em 2015, a estilista e costureira Claudia Frick procurou na Alemanha uma oficina onde trabalhadores qualificados pudessem confeccionar as peças de sua própria marca, “Coco Lores”, não encontrou nenhuma e acabou descobrindo uma lacuna no mercado. “Naquela época surgiu a ideia básica de criar uma oficina inspirada nas dos anos de 1960 e 1970, quando ainda existiam as chamadas oficinas intermediárias.” Ou seja, ateliês que trabalhavam regionalmente e produziam pequenas coleções – às vezes apenas dez peças, mas também 500 ou mais. Não para o cliente final, mas para o vendedor.
Acesso justo ao trabalho e à formação profissional
Em 2015, a mulher, atualmente com 52 anos, viu na televisão uma reportagem sobre refugiados que trabalhavam no setor dos ofícios técnicos e manuais. Junto com a empreendedora social e designer de comunicação, Nicole van Alvensleben, ela decide fundar uma manufatura de costura. Com o objetivo de suprir a falta de trabalhadores qualificados na área da costura. Mas também de facilitar o acesso justo de costureiras com experiência de refúgio ou migração ao trabalho e à formação profissional na Alemanha. Mulheres que, em muitos casos, já haviam recebido excelente formação em seus países de origem. “A costura é uma atividade muito comum e muitas vezes praticada em um nível muito alto, nos países de onde vêm muitas refugiadas e migrantes para a Alemanha”, explica Claudia Frick.
Isso é evidente, especialmente, no caso da funcionária Reyhane Heidari, natural do Afeganistão, cuja família já havia emigrado para o Irã na década de 1980.
A costura é uma atividade muito comum e muitas vezes praticada em um nível muito alto, nos países de onde vêm muitas refugiadas e migrantes para a Alemanha.
Claudia Frick: “Nunca conheci ninguém com tanto talento e tanta habilidade. Ela tem o nível de uma mestra”, afirma Claudia Frick. Reyhane Heidari, que começou a trabalhar como costureira no Irã aos 13 anos, queria muito obter um diploma formal. Em 2020, concluiu a formação profissional dual como a melhor de sua turma, com distinção. Sua peça de formatura: um terno assimétrico, com uma silhueta feminina aplicada na lapela e com qualidade de alta costura. Segundo a profissional de 32 anos, mãe de uma filha, o maior desafio durante o curso não foi o domínio técnico, mas sim a barreira do idioma. “Na parte prática, eu não tive problema. Eu sabia que conseguia fazer. Mas, na parte teórica, precisei praticar muito.”
Praticar alemão sempre que possível
Um grande passo. No início, não era possível dizer muito mais do que um simpático “Oi!”. Ainda assim, Reyhane Heidari e Claudia Frick conseguiam se entender. “Costurar uma blusa no Afeganistão ou na Venezuela é exatamente igual a costurar na Alemanha. Pences, direção do fio, margem de costura – o ofício da costura é como um idioma universal”, diz Claudia Frick. Um alicerce sobre o qual o “Stitch by Stitch” se apoia de forma sistemática. Um exemplo disso é Rainer Vollmar, um professor que, desde a fundação da oficina, dá voluntariamente aulas de alemão uma vez por semana às funcionárias. Claudia Frick e Nadja Losse, antropóloga cultural que assumiu a direção após a saída de Nicole van Alvensleben, incentivam as funcionárias vindas de países como Afeganistão, Etiópia, Síria, Venezuela e Ucrânia, a aproveitar todas as oportunidades, inclusive durante o trabalho, para aprimorar e praticar o alemão. “Nós também praticamos situações do dia a dia de forma direcionada. Por exemplo, pedir comida por telefone. Muitas vezes isso é evitado, porque pode ser estressante”, explica Claudia Frick. Na oficina, há até um quadro de ardósia com vocabulário do ofício da costura.
Eu amo minha profissão, principalmente porque sempre há algo novo para aprender. Nunca fica entediante. Sempre há um novo material, uma nova forma de costurar.
Uma prática que tem tido resultados impressionantes. Um exemplo é Tetiana Korenivska, da Ucrânia. Lá, ela havia concluído uma graduação em Modelagem e Tecnologia do Vestuário e trabalhava nessa área. Seu conhecimento é um enorme reforço para nós, afirma Claudia Frick. “É realmente uma sorte tê-la em nossa equipe.” Tetiana Korenivska, 45 anos, mãe de três filhos, vive na Alemanha desde 2023 e faz parte da equipe de 18 pessoas do Stitch by Stitch. Ela afirma: “Eu amo minha profissão, principalmente porque sempre há algo novo para aprender. Nunca fica entediante. Sempre há um novo material, uma nova forma de costurar.
Às vezes, preciso pensar um pouco mais sobre como algo pode funcionar. E aí talvez pareça que não estou fazendo nada. Mas estou trabalhando!”, ela ri. Junto com Claudia Frick, ela desenvolve novas ideias de produtos para ampliar o alcance e a demanda da oficina.
Empreendedoras premiadas
A “Stitch by Stitch”, premiada em 2017 com o Prêmio de Empreendedorismo do Estado de Hesse, é um empreendimento social sem fins lucrativos e sustentável, registrado como associação. O projeto recebe apoio, entre outros, da cidade de Frankfurt do Meno, por meio de recursos do Programa de Mercado de Trabalho de Frankfurt. A iniciativa oferece a mulheres com experiência de migração ou refúgio uma nova perspectiva, criando empregos e vagas de formação profissional justos. Nadja Losse: “Atualmente, junto com as oficinas de figurino da ópera, somos um dos maiores centros de formação em costura de Frankfurt e de toda a região do Reno-Meno”, afirma Claudia Frick.”
Mas a oficina também preenche uma lacuna empresarial, oferecendo qualidade no setor dos ofícios técnicos e manuais, algo que precisa ser reafirmado constantemente no mercado. Atua com trabalhos sob encomenda para empresas e organizações, além de desenvolver peças próprias sob a marca “Stitch” e investir na reutilização criativa e reciclagem de tecidos. Tudo isso não é fácil em um setor conhecido pela redução abusiva de salários e cuja produção costuma estar concentrada em países de baixo custo. Ainda assim, destacam Claudia Frick e Nadja Losse, a oficina de costura tem vários diferenciais competitivos: excelente qualificação técnica, alta qualidade na produção e a diversidade cultural que as mulheres trazem consigo.
Grande destaque para o “Made in Germany”
Outro ponto forte é o conhecimento técnico, evidente no amplo maquinário da oficina. Especialmente quando se trata de malha, um tecido notoriamente difícil de trabalhar. Mas isso não é problema para Reyhane Heidari, especialista em materiais complexos e nos desafios da tecnologia. Há pouco, ela identificou a solução para um problema em uma máquina de costura especial. Uma verdadeira profissional. Uma daquelas que, assim como suas colegas, dão todos os dias um novo destaque ao “Made in Germany”.