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Meio-vegetariano

Jürgen Ziemer pergunta-se onde foi parar o apetite dos alemães por salsicha e Schnitzel.

20.06.2013
© picture-alliance/dpa - Nutrition

O assado de domingo era, antigamente na minha família, uma espécie de ritual sagrado. Um pequeno milagre econômico, a essência da boa cozinha. Como um troféu, minha mãe colocava sua criação no meio da mesa de jantar. Às vezes, era um escalope empanado e dourado (“Schnitzel”); em outras, uma carne assada suculenta, recheada com cebola e toucinho; ou ainda, minha comida preferida, frango tostado crocante com batatas “chips”. À salada cabia um papel secundário. O óleo da fritura era regado generosamente sobre as batatas. Mesmo as gorduras nas bordas das carnes não eram tabu. Eram tempos de total inocência culinária. Nós comíamos o que gostávamos, ou seja, principalmente carne.

Nos últimos anos, alguma coisa mudou. Carne não é mais símbolo de “status” na Alemanha. Assim como os refrigerantes açucarados, ela é considerada grande exemplo de nutrição pouco saudável. Apenas maus pais obrigam seus filhos a comer “Schnitzel”, segundo o novo consenso. Lanchonetes de salsichas grelhadas, outrora parte elementar da tradição alimentar alemã, são cada vez mais raras. Em vez disso, escuta-se com frequência a eloquente frase: “Eu praticamente quase não como mais carne”. É curioso. Enquanto no exterior ainda somos vistos como os especialistas em salsichas e Schnitzel, dois terços das mulheres e quase 40% dos homens na Alemanha consideram-se “semivegetarianos”. Ao menos de acordo com o resultado de uma pesquisa do instituto Forsa. Hoje, símbolo de status não é mais o assado de domingo, mas sim a renúncia ascética a ele. Na esperança de uma vida mais longa e saudável, tanto quanto possível e com frequência cada vez maior, também compramos alimentos orgânicos. E, quando há carne na mesa, então, por favor, de vacas felizes e joviais galinhas caipiras.

Soa razoável. Afinal, houve escândalos suficientes relacionados à carne, que continua muito barata na Alemanha. “Carne estragada” no Döner, vaca louca no bife. Sobretudo os grandes criadores de animais em massa fornecem, regularmente, motivos para manchetes negativas. Mas não é meramente a preocupação com a 
própria saúde – muitas pessoas acham o sacrifício de animais basicamente imoral. Ao lado do livro-denúncia “Comer animais”, do norte-americano Jonathan Safran Foers, foi sobretudo “Comer decente”, um auto-teste da autora alemã Karen Duve, que provocou uma mudança de comportamento. Assim informado, é quase impossível, diante do balcão de carnes no supermercado, deslocar os olhos grandes de pequenos novilhos. Há, entretanto, quem exagere na dose. Por exemplo, os veganos. Em nome da consciência limpa e de um mundo sem maus tratos, este grupo populacional, que cresce lenta, mas firmemente, renuncia a todos os produtos de origem animal: assados, queijos, ovos, mel e, naturalmente, também 
sapatos de couro e pincéis de barbear com pelos de texugo. Isto, porém, não deixa a vida mais simples. Recentemente, no restaurante, uma amiga vegane teve de devolver, com o estômago roncando, uma salada que parecia muito deliciosa. O garçom, consciente de sua responsabilidade, confessara a ela: “Eu receio que haja também uma gotinha de leite no dressing...” E leite, segundo os veganos, é um produto da exploração, da escravização de um animal.

Evidente que, justo agora no verão, há incontáveis iguarias originadas do pomar e da horta. As mesas entre os Alpes e o Mar do Norte também são postas ricamente sem carne e salsichas. Hoje em dia, eu também sou daqueles que repetem a frase “eu, propriamente, já quase não como mais carne...”. Somente às vezes, quando o cheiro de alho frito associa-se ao de carne grelhada, de criação ecológica. Estou certo que razão e princípios éticos são uma bela coisa, mas, ao menos de vez em quando, devemos também ouvir o que nossa barriga quer nos dizer. ▪

Jürgen Ziemer vive em Hamburgo e colabora, como autor, com o semanário “Die Zeit” e a revista “Rolling Stone”. Cozinheiro por hobby, ele experimenta, acima de tudo, as culinárias italianas e tailandesa.