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Os novos “gourmets”

Regional e internacional, veganismo e hambúrguer – na alimentação, as contradições são a tendência. A qualidade tem de ser boa e o melhor é quando outras pessoas cozinham.

29.09.2016

Um provérbio alemão afirma: O ser humano é aquilo que ele come. Sendo verdade, então temos na Alemanha personalidades múltiplas. Nunca existiram tantas e tão diferenciadas maneiras de alimentar-se e sobretudo: raramente, elas trouxeram consigo tanta moral, política e consciência de saúde. São ingredientes que acompanham sobretudo as supertendências do vegetarianismo e do veganismo. Na Alemanha, 7,8 milhões de pessoas alimentam-se vegetarianamente e 900 000 pessoas são veganas. Segundo a Associação dos Vegetarianos, esse número aumenta diariamente em 2000 vegetarianos e 200 veganos, que eliminam bifes e assados do cardápio.

Há muito, todo supermercado oferece produtos, para os quais ainda era preciso, há anos, ir longe em busca de lojas de produtos orgânicos. Apenas com embutidos e carnes alternativos – substitutivos vegano-vegetarianos, o comércio alimentício logrou em 2015 um faturamento de mais de 150 milhões de euros. Mas não há extremos sem reação contrária: também a carne volta à moda. “Alguns testam o ascetismo, enquanto seus vizinhos defumam carne de porco no ‘smoker’. Isto é típico da nossa época”, avalia o cientista cultural Markus Schreckhaas o yin e yang do panorama alimentar alemão. Grelhar uma salsicha, simplesmente? É coisa do passado. Hoje, os filés são pincelados horas a fio com um molho de cerveja preta e mostarda. Não apenas o “barbecue” está conquistando os altos círculos “gourmets”. Também o hambúrguer está se tornando uma iguaria de cozinha fina. “O ‘fast food’ está se transformando em ‘fast good’”, afirma Hanni Rützler, pesquisadora de tendências. “Trata-se sempre de coisas frescas – sucos frescos, saladas frescas e uma nova compreensão da qualidade regional”.

Produtos regionais e orgânicos dominam o prazer pela carne e o veganismo de luxo – ambos coexistem pacifica e saborosamente nos mercados alimentícios de rua, por exemplo, a “Markthalle Neun” no bairro de Kreuzberg em Berlim. Lá também se encontra uma das cerca de 680 pequenas cervejarias alemãs, que dão um novo impulso ao mercado da cerveja na Alemanha, com as suas “craft beers”. Também muito em moda: “food trucks”. Cerca de 1000 cozinhas móveis desse tipo, com decoração individual, rolam pela Alemanha. Suas placas de oferta incluem produtos usuais, como hambúrguer em todas as variações possíveis, mas também tradicionais iguarias regionais, como “Allgäuer Käse­spätzle”, ou internacionais: coxinhas de frango brasileiras ou a especialidade sul-africana “Bunny Chow”, caril em pão branco.

Com toda a variedade culinária, existem também denominadores comuns: a melhor qualidade, grande arte culinária apesar de despretensiosa e o fato de que a refeição móvel chegou no momento certo. Pois os alemães comem, cada vez mais, fora de casa. Em 2015, foram feitas em casa cerca de três bilhões de refeições menos do que um ano antes. Em vez disto, os alemães preferem sair à rua para ali “lanchar” a região e o mundo, ao mesmo tempo. E felizes de que uma outra pessoa é que teve de trabalhar ao fogão para isto. ▪