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“Crescer como Alemanha unificada”

Na sua função de presidente do Bundesrat, Bodo Ramelow, governador da Turíngia, é o anfitrião da comemoração nacional do Dia da Unidade Alemã.

Carsten Hauptmeier, 28.09.2022
Bodo Ramelow, governador da Turíngia
Bodo Ramelow, governador da Turíngia © Landesregierung Thüringen

As festividades oficiais do Dia da Unidade Alemã serão comemoradas em 3 de outubro deste ano na Turíngia. O anfitrião Bodo Ramelow, governador deste Estado federado, é atualmente o presidente do Bundesrat (Conselho Alemão), a Câmara dos Estados federados. Ele fala sobre o federalismo na Alemanha, sobre as suas experiências com a Alemanha Oriental e Ocidental e sobre a solidariedade recebida.

Senhor governador, é também um sinal internacional que a comemoração da Unidade acontece cada ano em um outro Estado federado e não sempre em Berlim, a capital alemã?

O que me agrada imensamente neste ano é que eu, sendo presidente do Bundesrat, também posso representar os Estados federados alemães no estrangeiro, onde as pessoas sempre se surpreendem em tomar conhecimento do que o federalismo significa na Alemanha. É um caso único em todo o mundo a maneira como dividimos o poder entre a Federação e os Estados federados através de duas câmaras. O Bundesrat representa todos os 16 Estados federados. Apesar de toda a diferença entre os Estados, o federalismo igualitário também teria chances de solucionar conflitos em outros países, pois é nele que se assume uma responsabilidade comum.

Qual é a mensagem central da Turíngia quanto à comemoração da Unidade neste ano?

Meu credo sempre foi: crescer juntos para crescer juntos. Queremos mostrar o que a Turíngia possui e o que ela pode fazer para que a Alemanha unificada possa continuar crescendo junta. Eu próprio vim há 32 anos da Alemanha Ocidental para a Turíngia, na Alemanha Oriental. Dado que uma parte da família do meu pai vivia na Turíngia, viajei muitas vezes, como pessoa privada, para a então RDA. Mas foi somente em 1990 que notei que nunca tinha entendido nada da vida lá. É óbvio que falávamos a mesma língua, mas tínhamos uma socialização totalmente diferente.

Como o senhor vivenciou pessoalmente o período entre a Queda do Muro, em 9 de novembro de 1989, até a reunificação em 3 de outubro de 1990?

Não tive tempo de refletir sobre nada. Depois de ter vindo para Erfurt, em fevereiro de 1990, na função de secretário ocidental do sindicato, trabalhei os primeiros meses dia e noite, sem parar. Naquela época, as pessoas estavam muito preocupadas, pois não sabiam o que aconteceria com as suas famílias, com os seus serviços e negócios. Sempre ouvi o que as pessoas diziam, tentando encontrar soluções. 

Quando as pessoas se deparavam com a Unidade Alemã, elas demonstravam estar curiosas e ter confiança no futuro, mas, com o passar do tempo, todas as suas vidas viraram de cabeça para baixo. As mudanças que aconteciam iam de documentos pessoais até planos de saúde, do emprego até a aposentadoria. Os alemães ocidentais não podiam ter a menor ideia disso tudo. Foi uma experiência coletiva das pessoas da Alemanha Oriental, não importando se elas tinham adorado ou odiado a RDA.

Ainda existem diferenças entre a Alemanha Oriental e a Ocidental?

A República Federal ocidental, da qual eu vim, também não existe mais. O processo de mudança lá aconteceu lentamente. Ele não está vinculado a determinados dias, como o 9 de novembro de 1989, quando o Muro ruiu, ou como o 3 de outubro de 1990, o dia da Unidade Alemã. Esta é a significante diferença entre o Leste e o Oeste alemães.

As lembranças coletivas da RDA permanecem e são transmitidas às novas gerações. Um exemplo é a “Jugendweihe” (iniciação dos jovens à idade adulta). No leste, onde 75 por cento das pessoas não pertencem a nenhuma igreja, essa iniciação ainda continua sendo comemorada. No oeste, ao contrário, existem a primeira comunhão e a confirmação na igreja. Outro exemplo é a “Gemeindeschwester”, uma enfermeira que também cuidava do abastecimento médico em uma aldeia. Tais enfermeiras também são promovidas até hoje. Há coisas dos tempos da RDA que nos ajudariam muito hoje em toda a Alemanha. E isso não é nenhuma idealização da RDA.

Já faz 32 anos que a reunificação da Alemanha aconteceu. Que progresso fizeram os Estados do leste da Alemanha e como o senhor analisa a situação atual da Unidade Alemã?

Economicamente estamos aqui, na Alemanha oriental, bem situados. Se somarmos, por exemplo, a produção econômica dos Estados da Turíngia, Saxônia e Saxônia-Anhalt juntos, essa região central da Alemanha estaria em 11º lugar com relação aos países europeus. Temos na Turíngia 60 líderes do mercado mundial, desde produtores de rodapés até fabricantes de tubos para aparelhos de radioscopia. A metade de todas as garrafas da Alemanha é produzida na Turíngia. O problema é que ninguém sabe que as firmas da Turíngia são líderes em muitos segmentos do mercado mundial e que os produtos turíngios são empregados no mundo todo. Nós não queremos ficar lamentando, mas despertar a consciência da força que surgiu na Turíngia nos últimos decênios.

Ao mesmo tempo, queremos mostrar o que a solidariedade significa. Um exemplo da época da reunificação: hoje, nós todos admiramos muito o bairro histórico de Erfurt, capital da Turíngia. Todavia, há trinta anos, esse bairro estava a beira do colapso. Através de um programa de Hessen, Estado ocidental da Alemanha, foram reconstruídos 1 000 tetos de casas nesse bairro. Precisamos de algo entre gratidão e reconhecimento por todo trabalho executado, para que possamos nos tratar mutuamente com respeito.

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