A Conferência Berlinense de Segurança
A Conferência Berlinense de Segurança (Berlin Security Conference – BSC) é uma plataforma importante para a política de segurança e defesa na Europa. Três perguntas ao ministro de Estado, Michael Roth.
Senhor Roth, o senhor toma parte na Conferência Berlinense de Segurança, sendo também membro do Advisory Board. Por que um ministro europeu se engaja tanto na política de segurança e defesa? Não é antes uma questão da OTAN?
A política de segurança e defesa tem de ser um dos temas centrais do projeto europeu. Com razão, os europeus esperam muito da Europa, principalmente quando se trata de segurança e defesa. Eu levo isso a sério e vejo isso como um elemento essencial da cooperação europeia. Isto nada tem a ver com uma militarização da UE, como sempre se afirma. Com respeito às eleições nos EUA, ainda temos de aguardar se haverá mudanças no papel da política externa da UE.
A cooperação europeia na política de segurança tem uma longa história. Paralelamente à instituição da OTAN, os Estados fundadores da Comunidade Europeia já haviam se ocupado com as questões da segurança. Hoje, a Política Comum de Segurança e Defesa (GSVP) da UE engloba todas as questões que têm importância nesse setor. Os próprios instrumentos e forças da UE, para a solução de conflitos e crises, não significam uma concorrência à OTAN, mas uma complementação desta.
O senhor fará a abertura da conferência junto com seu homólogo francês. O que o senhor diz sobre a cooperação alemão-francesa neste particular?
A França é nosso parceiro mais importante na política externa e de segurança. Funcionando bem, o “motor alemão-francês” é também bom para toda a UE. Fizemos recentemente propostas de grande alcance na política comum de segurança e defesa a Federica Mogherini, alta representante da UE, incluindo, em junho, um documento dos nossos ministros das Relações Externas com o título “Uma forte Europa em um mundo incerto” e também, em setembro, uma carta comum de nossos dois ministros da Defesa. Estas propostas foram acolhidas favoravelmente pelos outros Estados membros da União Europeia.
Nossas reações frente ao violentos atentados de Paris no ano passado foram uma expressão dessa cooperação que é caracterizada por uma solidariedade muito estreita. Foi a primeira vez na história que o governo francês solicitou apoio após um ataque armado. E a Alemanha atendeu rapidamente esse pedido. Reforçamos, por exemplo, nosso engajamento militar no Mali, para aliviar lá as forças armadas francesas. Também participamos na coalizão internacional anti-EI, com medidas de reconhecimento aéreo, de reabastecimento aéreo, através de aviões de reconhecimento AWACS e com a escolta do porta-aviões francês Charles de Gaulle.
O que significam o Brexit e as eleições nos EUA para a política comum de segurança e defesa na Europa?
O Reino Unido é que tem de ser ativo agora, que tem de nos esclarecer como serão suas relações futuras com a UE e, consequentemente, a nossa cooperação na política comum de segurança e defesa. Gostaríamos de continuar mantendo fortes relações com o Reino Unido, ao passo que a coesão da União Europeia continuará sendo a maior prioridade para nós.
Muito semelhante é com o caso das eleições nos EUA. Explicando: as relações transatlânticas fundamentam-se principalmente em valores. Muitas posições do novo governo dos EUA ainda não estão nada claras. Mas o que é certo depois das eleições é que os americanos e os europeus precisam uns dos outros. Temos de nos compreender dentro da OTAN e garantir que ela continue sendo nossa aliança de solidariedade. Os EUA e a Europa precisam de posições comuns para moldar a globalização, pois as fortes relações econômicas, sociais e culturais continuam existindo independente de uma mudança política.
Voltando à primeira pergunta: conferências, como a BSC, oferecem uma plataforma extraordinária para as discussões do momento.
Conferência Berlinense de Segurança, em 29 e 30 de novembro de 2016
